Com as análises sobre a evolução da pandemia de coronavírus ainda em andamento, está claro que as próximas semanas serão as mais relevantes na identificação do comportamento da doença no Brasil. Dependerá do grau de fidelidade de governantes e população às medidas restritivas a adoção de um dos três caminhos possíveis: a manutenção do modelo híbrido atual, a flexibilização de restrições ou o estreitamento das possibilidades de circulação.
Aos olhos do mundo, o Brasil não adotou uma rígida política de isolamento, mas sim o distanciamento social preconizado pelo Ministério da Saúde, ou seja, o fechamento de atividades não essenciais e a adoção voluntária dos cidadãos à permanência em casa ou ao uso de máscaras, entre outras. A quarentena brasileira é até agora um meio do caminho que vem se mostrando o possível para o momento, levando-se em conta a curva da doença, o modelo social e a complexidade de implementação.
Se as medidas atuais não forem suficientes para evitar o colapso do sistema médico, a tendência será governadores e prefeitos adotarem por conta própria o chamado lockdown
Se as medidas atuais não forem suficientes para evitar o colapso do sistema médico e uma mortandade bem além dos prognósticos, a tendência será governadores e prefeitos adotarem por conta própria o chamado lockdown, um modelo que proíbe a circulação de pessoas que não se encontrem em atividades essenciais, controladas por barreiras em ruas e estradas. É o que ocorre agora na Itália e na Espanha, depois do fracasso das primeiras medidas, e é o implementado
de supetão na Argentina, no Peru e na Índia, com enorme sacrifício social. No lockdown, inspirado em Wuhan, a quase totalidade do transporte público é paralisada, hotéis são esvaziados e pessoas são multadas por saírem às ruas sem justificativa.
É para que se evite esse modelo duríssimo que os brasileiros, com responsabilidade direta na condução da crise ou não, devem colaborar ativamente agora, respeitando voluntariamente as restrições. Infelizmente, quando as medidas falham, as opções se estreitam. Suécia, Japão e Singapura, entre outros países que confiaram no controle individual de infectados, estão vendo aumento significativo de contágios e caminhando na direção de restrições ao contato social cada vez mais pesadas, na contramão dos que apregoaram cedo demais o suposto sucesso de alguns modelos mais flexíveis.
Para além de uma terapia efetiva ou de uma vacina, a testagem em massa é a terceira esperança apontada por especialistas como uma solução eficaz para a retomada gradual de atividades. Com os testes em grande parte da população, os assintomáticos, que podem chegar à metade dos contaminados, também se isolariam, enquanto aqueles que já tivessem desenvolvido anticorpos poderiam voltar a trabalhar e estudar. É preciso, portanto, aprofundar-se a consciência social para se evitar o lockdown no Brasil e, paralelamente, se começar a testar maciçamente a população para se ter segurança de que as medidas estão surtindo efeito e se poder voltar à normalidade.