Uma das aparentes fragilidades do Estado e do Brasil no esforço para abrandar e depois debelar a pandemia de coronavírus é a falta de um quadro mais preciso do número de casos e de como a doença vem se espalhando territorialmente. Com a dificuldade do país de aplicar testes em massa, como foi feito na Coreia do Sul, uma das opções mais promissoras é a pesquisa liderada pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) que vai traçar este mapa para o Estado a partir de exames e questionários, utilizando um método semelhante aos levantamentos de intenção de voto.
Uma das opções promissoras é a pesquisa liderada pela UFPel que vai tentar traçar este mapa para o RS a partir de exames e questionários
O trabalho da UFPel, com base em uma amostragem, vai estimar o percentual de infectados no Rio Grande do Sul, a velocidade da disseminação do vírus e a parcela de assintomáticos. São informações preciosas, por exemplo, para melhor estruturar a rede de saúde, permitindo saber a necessidade de leitos de UTI e respiradores.
A inexistência hoje de informações acuradas dificulta a tomada de uma série de decisões que necessitariam de dados mais concretos e realistas para que não se transformem em erros que logo em seguida poderiam levar a passos para trás, com danos ainda mais custosos para a sociedade. A insuficiência das estatísticas pode induzir a equívocos tanto no afrouxamento das medidas de restrição à circulação de pessoas quanto em relação à gradual reabertura de atividades econômicas não essenciais. Pelo lado do sentimento coletivo, há o risco de a inexistência de um panorama preciso gerar a falsa percepção de um problema não tão grave, com consequências no relaxamento do distanciamento social.
A Coreia do Sul é uma das nações com melhor manejo da pandemia no mundo. Graças à testagem em massa e à ampla gama de informações obtidas com esse modelo, os coreanos podem traçar um quadro mais claro da covid-19 em seu território, incluindo os casos assintomáticos e as regiões mais afetadas, o que permite planejar de forma mais segura o retorno a um número maior de atividades. Ou seja, é possível permitir alguma retomada mais significativa da economia, minimizando riscos à saúde da população. O Brasil, ao contrário, sem estrutura e recursos, vem demonstrando uma quantidade ínfima de testes. São menos de 300 para cada 1 milhão de habitantes, enquanto na Alemanha a taxa chega a 15,7 mil, nos EUA a 7,1 mil e, no Irã, a 2,7 mil.
Diante da impossibilidade de replicar o êxito da Coreia do Sul no Brasil, devido à dificuldade de adquirir testes e insumos para produzi-los, é preciso apostar em estratégias como a pesquisa conduzida pela UFPel.
O mundo ainda tateia na busca pelas melhores estratégias para combater o coronavírus, e o que é aplicado com sucesso em um país não necessariamente pode ser repetido em outro local. Enquanto se mantém o distanciamento social, a melhor saída é buscar ao máximo conhecer as particularidades da ação do vírus no Estado e, assim, tomar as melhores decisões para os gaúchos.