Esta é, e precisa ser, uma Sexta-feira Santa diferente, sem a tradicional procissão no Morro da Cruz, em Porto Alegre, e sem missas em igrejas. Tem de ser também um feriado em que será necessário revogar o costume de viajar para visitar parentes e amigos ou mesmo se reunir com os familiares. É um momento de ficar em casa. A Sexta-feira da Paixão, por outro lado, segue como uma oportunidade para reflexão. Diante do desafio posto pela pandemia do novo coronavírus, não apenas para os católicos, mas para os seguidores de todas as religiões.
Seguir em casa, diante da crise sanitária que testa a resiliência do mundo, é hoje um dos maiores atos de empatia, ao lado de ajudar os mais necessitados. Permanecer em casa significa proteger a si mesmo e diminuir as chances de mais pessoas serem contaminadas pelo vírus. É uma atitude de responsabilidade e solidariedade, que se aferra aos mais profundos valores religiosos e da civilização.
É um gesto que exige pouco diante dos enormes prejuízos individuais e coletivos que a burla a esta regra agora básica pode acarretar
O Rio Grande do Sul e suas principais cidades parecem estar conseguindo conter o tsunami de infecções, internações e mortes. Para os desavisados, esta aparente situação sob controle pode ser um incentivo para relaxar a determinação de continuar seguindo as orientações das autoridades de saúde e sair às ruas em situações que não sejam absolutamente necessárias. Mas é preciso ter em mente que este quadro que hoje não é tão dramático como o observado em outras cidades do mundo só está sendo possível exatamente porque a maioria da população gaúcha está se guiando pelas regras de distanciamento social. A decisão tomada hoje tem reflexos nas semanas seguintes, para o bem e para o mal.
Não se pode permitir que a curva de crescimento dos casos de pessoas contaminadas e vítimas fatais tenha uma ascensão mais acelerada. Ainda há o risco de a covid-19 se espalhar mais rapidamente pelo Rio Grande do Sul, inclusive nas localidades menores. O Estado começa a ingressar agora no período mais frio do ano, uma época mais propícia para a disseminação de agentes como o coronavírus. Os gaúchos, portanto, estão mais sujeitos a contágios.
Ficar em casa no feriadão não significa perder o contato com as pessoas mais próximas. O momento apenas exige a substituição do contato pessoal pelo virtual, para levar e receber palavras de carinho. É preciso permanecer resguardado e só se deslocar em casos de máxima necessidade, um gesto que exige pouco diante dos enormes prejuízos individuais e coletivos que a burla a esta regra agora básica pode acarretar. Se a Sexta-feira Santa remete a sacrifícios, não devemos esquecer que depois vem a Páscoa, que carrega o significado do renascimento. Um símbolo e uma certeza de que todas as angústias atuais vão passar. Será mais rápido se seguirmos em casa.