O senso comum costuma associar o Sistema Único de Saúde (SUS) a emergências lotadas, pacientes mal acomodados, longas demoras para exames e consultas. As deficiências da rede são verdadeiras. Mas, no momento em que a pandemia do novo coronavírus atemoriza os brasileiros, é justo render uma homenagem ao SUS e a seus profissionais. São eles que, nesta fase difícil, representam o amparo decisivo à população mais carente, sem fechar as portas para os estratos com melhores condições financeiras que venham a necessitar de suporte da malha pública de saúde.
Não há um único país no mundo com mais de 100 milhões de habitantes que conte com um benefício gratuito semelhante
Mesmo criticado e com dificuldades substantivas, o SUS é uma bênção em um país com renda baixa como é o Brasil. Falta verba para o seu pleno funcionamento, existem falhas de gestão e vez por outra são descobertos desvios de recursos. Mas, a despeito do descaso a que muitas vezes é relegado, o sistema e sua oferta de serviços universais são o melhor exemplo de um programa de saúde de tamanha abrangência entre todas as nações em desenvolvimento. Não há ainda um único país no mundo com mais de 100 milhões de habitantes que conte com um benefício gratuito semelhante. É impossível encontrar comparação, dada a cobertura e capilaridade em um território de proporções continentais e que tem a característica de abarcar desde estratégias de atendimento às famílias e vacinação de crianças até tratamentos de alta complexidade, como para o câncer, e transplantes.
Países ricos como os Estados Unidos, por exemplo, não contam com nada semelhante. Os americanos, pelo contrário, ainda debatem como serão pagas as contas dos atendimentos causados pelo coronavírus. A dramaticidade da situação faz o assunto ser inclusive um dos temas centrais da campanha presidencial nos EUA. É um problema que, apesar das incontáveis mazelas brasileiras, não existe por aqui neste instante de emergência sanitária.
É preciso, portanto, valorizar o SUS e seus profissionais que estão na frente de batalha contra o coronavírus. Mas é condenável aproveitar o momento para ações com teor político, como o de um sindicato da área que usou preciosos equipamentos que deveriam ser utilizados nos hospitais para se paramentar e protestar em frente ao Palácio Piratini. Condutas isoladas reprováveis à parte, o SUS deve ser reforçado com verbas e insumos básicos para que os homens e mulheres que formam a linha de defesa dos brasileiros consigam deter a covid-19. Necessitam de apoio material e emocional nesta hora de provação, sem que se meçam esforços para isso, como demonstram diferentes iniciativas paralelas ao poder público destinadas a aparelhar a rede. A saúde é direito de todos os cidadãos e dever do Estado, diz a Constituição. Mas qualquer ajuda da sociedade, de empresas e organizações, ainda mais neste momento excepcional, é mais do que bem-vinda. É necessária.