Por Igor Oliveira, consultor empresarial
Em outubro, a Nova Zelândia anunciou um compromisso de ser neutra em matéria de gases de efeito estufa até 2050. Teoricamente, isso significa que a pequena nação vai deixar de contribuir com o efeito estufa global, o que parece louvável.
A principal crítica à nova legislação neozelandesa foi acerca de uma exceção dada às emissões de metano por ruminantes, que representam mais de 30% do total naquele país. Tem sentido criticar esse ponto, visto que neutralidade de carbono independe de fonte. No entanto, há outros dois problemas mais graves na lei.
O primeiro é ignorar as emissões passadas e o papel da nação na destruição de sistemas vivos. Para ser neutro de verdade, um país precisaria retirar da atmosfera os gases de efeito estufa que emitiu até então. Isso é importantíssimo para não sinalizar às grandes potências globais que elas podem simplesmente deixar de emitir para redimir todos os seus pecados em matéria de colonialismo, escravidão, provocação de conflitos em outras nações, destruição acumulada de capital natural e outros modelos de desenvolvimento predatórios. O passado importa.
Para ser neutro de verdade, um país precisaria retirar da atmosfera os gases de efeito estufa que emitiu até então
O segundo problema é a falta de clareza no que diz respeito às chamadas emissões de escopo 3, que são emissões indiretas embutidas em bens e serviços não-energéticos importados. A conta é simples: na medida em que as autoridades restringem as emissões dentro de suas fronteiras, a tendência é que aumentem as importações de alto carbono. Em outras palavras, a sujeira é jogada para baixo do tapete: ao invés de emitir em seu próprio território, o país passa a importar emissões, normalmente de atores ainda menos transparentes.
Vale lembrar que na Nova Zelândia nenhum partido político ignora a crise climática global. É um país que debate o problema de maneira mais madura do que o Brasil. O líder da oposição, Scott Simpson, chamou atenção para essa incoerência da nova lei sem a intenção de desmerecer o esforço do atual governo, mas de maneira construtiva.
No fundo, o que dói admitir é que os países desenvolvidos terão que baixar seu padrão de vida e atividade econômica se quiserem dar uma chance ao restante do mundo de atingir níveis razoáveis de desenvolvimento humano. Outra opção seria abrir fronteiras de maneira drástica, o que também está longe de acontecer.