Por Fábio Bernardi, sócio-diretor de criação da Morya
O que é a vida? De todas as inúmeras respostas possíveis para esta pergunta, a mais errada é a que reduz a vida a uma sequência de tempo. Ela não é a soma de dias, meses e anos. Por isso, tenho ojeriza a um aplicativo que insiste em aparecer nas minhas redes sociais: o tal 12 minutos, que permite ler qualquer livro em menos tempo do que um quarto de hora. Afora o fato de que o app em questão não tem a menor chance de estar falando para a pessoa certa (já repararam como a mídia digital é cada vez mais parecida com a mídia de massa?), o tal aplicativo 12 minutos faz com a leitura o mesmo que as prostitutas fazem com o sexo: pragmaticamente reduz o prazer a um determinado tempo para que se torne lucrativo.
Aliás, só consigo enxergar um motivo pelo qual alguém gostaria de ler um livro em 12 minutos: ter certa curiosidade mas não querer perder tempo lendo. Ou seja: é para livros que você já sabe que não valem a pena. E qual a graça de ler algo só para ter a informação que aquilo contém? Seria o mesmo que comer apenas para ingerir calorias. E assim como comer rápido faz mal à saúde, ler rápido faz mal à inteligência. Porque não se trata apenas de ganhar conhecimento: trata-se de ganhar sabedoria, de sorver as coisas no tempo para o qual elas foram feitas – como a natureza ensina diariamente, e como os homens insistem em contrariar diariamente.
Esse aplicativo é o retrato do mundo de hoje, em que está tudo mais veloz. Dirigimos rápido, comemos rápido, trabalhamos rápido, nos vemos uns aos outros cada vez mais rapidamente. Tudo fugaz, fugidio, superficial. Dois empregos, três esposas, 4 pontes de safena. Parece que as coisas vão desaparecer em minutos ou que ficaremos ultrapassados na primeira curva. Só que a vida não é uma corrida em direção à linha de chegada – ao contrário, todos nós gostaríamos de adiar a chegada, não é?
Sei que alguns vão dizer que tempo é dinheiro. Mas você e eu sabemos que, em sã consciência e um pouco de cabelo branco, ninguém trocaria dez anos de vida por dez vezes mais dinheiro. Porque a vida passa, e ao contrário do dinheiro, vida a gente não consegue poupar ou recuperar.
Sim, a velocidade está cada vez mais presente na nossa vida. Mas não deixe que ela lhe atropele. Porque, como diria John Lennon, a vida é o que acontece enquanto você está fazendo outra coisa.