Por Fábio Bernardi, sócio-diretor de criação da Morya
É, eu sei, é bem ruim de ler isso. Mas, acredite em mim: você vai. Claro que não agora, e espero que não tão cedo. Mas chegará o dia, literalmente fatídico, em que você não estará mais aqui. E então você estará igualzinho ao porteiro do seu prédio, ao presidente da república, ao professor que reprovou seu filho, àquela presidente de sindicato que você odeia. Tanto faz quem é você hoje, o que você faz ou deixa de fazer e, menos ainda, o que você pensa. Você e seus desafetos, você e sua moralidade, você e sua ética, você e sua timeline cheia de intolerância do Facebook, irão todos para a mesma vala comum dos mortais. Aliás, para onde irá também sua família e seus amigos. Esta é a única lei da vida _ ou da morte, no caso. E de que terá valido ter razão? Ter mais ou menos dinheiro? Muito ou pouco poder?
Todos morrem, mas nem todos vivem. E aí está o ponto. Ou a vírgula, no caso. Porque nessa época do ano você vai dar uma pausa, certo? Vai passar o período de festas com quem gosta, desejando boas energias e um feliz ano novo. Mas você vai fazer isso porque é isso que se diz ou porque é isso que você sente? Pense bem nas suas resoluções de 2020: elas falam de quê? Mais de amor ou mais de sucesso? Mais de alegria ou mais de conquista? Mais de família ou mais de cargos de diretoria? Mais de vida ou mais de se matar de trabalhar? Você vai passar mais um ano achando que o importante é a disputa no emprego, o relatório pro chefe, o pedido do cliente ou topa adiar um pouco essa morte cotidiana para entrar no ano que vem beijando mais, abraçando mais, sorrindo mais, e se levando menos a sério?
Você vai morrer, mas é bom lembrar que os seus planos de longo prazo, os dividendos e bônus, as tarefas da casa que você nunca adia, as dívidas e os boletos que lhe dão angústia, o conserto da máquina de lavar, os ponteiros do relógio que não permitem atrasos, tudo isso também vai embora quando você for. Eles não ficam por aqui a contar como você era rígido com você mesmo. Você vai morrer e, naquele dia, a roupa vai continuar no varal e ninguém vai lavar os pratos na pia. Porque até todos os seus problemas vão morrer com você. E sendo assim, de que adianta morrer antes deles?
Então, eu queria apenas lhe lembrar disso: você vai morrer. Não agora, e espero que não tão cedo. Mas, por favor, também não morra aos poucos. Ao contrário: viva aos poucos. Em cada olhar, em cada minuto, em cada bolinha de natal, em cada mergulho de mar. A vida passa rápido demais, você não precisa acelerar nada.
E da vida a gente só leva a vida que a gente leva. Feliz Natal.