Por Ely José de Mattos, economista e professor da Escola de Negócios da PUCRS
Mais uma fala de Paulo Guedes causou polêmica. Esta semana, durante uma palestra, ele falou que "até empregada doméstica estava indo para Disney". Falou isso para justificar o dólar acima de R$ 4 como algo em concordância com a política econômica que prevê uma taxa de juros baixa. Logo, é natural que a taxa de câmbio seja esta, pois há saída de capital especulativo.
Eu imagino que ele estivesse tentando construir um exemplo de que antes o câmbio era irreal, e que custava muito ao país, em termos de juros. Seria uma espécie de distorção, do ponto de vista econômico.
Se este poderia ser considerado um exemplo infeliz, é preciso lembrar que não é a primeira vez que as falas de Guedes atacam os mais pobres. Já associou os mais pobres à degradação ambiental e também já pediu para não esperarem o fim da desigualdade social deste governo.
O que realmente preocupa é a convicção das suas falas, ainda mais que sua frequência. Além da linguagem de gosto duvidoso, seus argumentos externam crenças extremamente arraigadas de que pobreza e desigualdade não são problemas em si mesmas, mas uma espécie de "efeito colateral do mercado", que deveria ser resolvido pelo próprio mercado – se possível. Guedes dá sinais claros de que não saiu dos livros acadêmicos dos anos 70.
O que realmente preocupa é a convicção das suas falas, ainda mais que sua frequência.
Hoje, temos uma política econômica exclusivamente pró-mercado, chancelada por Guedes e bancada pelo Planalto. Um exemplo claríssimo disso é o desmanche do Bolsa Família e a maneira como o Ministério da Cidadania está sendo tratado. Outro, é a reforma da Previdência, que atacou de modo eficiente o problema fiscal, mas tem deixado na mão milhares de segurados sem o atendimento devido.
Portanto, foi só mais uma fala que corrobora a crença ultrapassada nos ajustes de mercado para problemas sociais. Quem pensa assim jura que as mudanças que Chile está tendo de fazer agora representam um "fracasso de um modelo liberal que estava dando certo" – parece pouco importar a ebulição social promovida pela (grande) parcela mais pobre da população.