O jornalista Leonardo Vieceli colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
Dois dias após pedir desculpas por comparar servidores públicos a "parasitas", Paulo Guedes voltou a escorregar em discurso. Na noite de quarta-feira (12), o ministro da Economia disse que, com o dólar em nível mais baixo do que o atual, "empregada doméstica estava indo para Disney" em "uma festa danada".
A imprudência da manifestação embute uma série de riscos. Ao escolher expressões que soam como desrespeitosas a categorias profissionais, Guedes gera tensão adicional para o governo. E é essa sucessão de turbulências que abala o debate econômico e o andamento de propostas para a área.
Logo após ser divulgada, a fala do ministro inflamou as já inflamadas redes sociais e despertou críticas de economistas de diferentes linhas de pensamento. Até aqueles que demonstram simpatia por suas propostas questionaram a citação a domésticas.
No mesmo discurso, na quarta-feira, o próprio Guedes sinalizou que havia percebido a repercussão que poderia causar. Tentou se explicar, ao relatar que a frase havia sido usada para reforçar que o "câmbio estava tão barato que todo mundo estava indo para a Disneylândia". Não adiantou muito. O estrago já estava feito.
É lógico que as comparações usadas pelo ministro pegam mal em um país como o Brasil. Segundo o centro de estudos FGV Social, a desigualdade de renda entre ricos e pobres sobe há 18 trimestres (desde 2015). Espera-se que, nos próximos discursos, Guedes adote tom mais comedido e se concentre nas ações que pretende desenvolver para atacar problemas históricos do país, gestados em outros governos.
Depois de sucessivos recordes em termos nominais, o dólar abriu em alta nesta quinta-feira (13). Parte do avanço esteve relacionada à repercussão do discurso do ministro. Em seguida, a moeda americana passou a cair, com intervenção do Banco Central. Ao final da sessão, o dólar teve baixa de 0,35%, a R$ 4,33.