Com o recuo do varejo em dezembro, o dólar bateu novo recorde nesta quarta-feira (12), a R$ 4,3520, alta de 0,67%. O dado fraco do mês de Natal sugere que a retomada do crescimento econômico não engrenou, o que pode levar a novos cortes na Selic por parte do Banco Central (BC) como estímulo. Com juros mais baixos, estrangeiros retiram investimentos do país, o que eleva o preço da moeda americana.
Este foi o quinto pregão seguido de alta do dólar. Durante a sessão, a moeda americana chegou a R$ 4,3540, também nova máxima. O turismo foi a R$ 4,5500. Em 2020, o dólar acumula alta de 8,4% ante o real, que é a moeda que mais se desvaloriza no período em todo o mundo.
O recorde do dólar nesta quarta, porém, é nominal. Em termos reais (corrigidos pela inflação), a moeda americana ainda está longe de sua máxima de 2002. Se for considerado apenas o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o pico de R$ 4 naquele ano equivale a cerca de R$ 10,80 hoje. Caso também seja levada em conta a inflação americana, o valor corrigido seria cerca de R$ 7,50.
Nesta quarta, o IBGE informou que o varejo interrompeu sete meses seguidos positivos e registrou queda de 0,1% em dezembro em relação a novembro. No ano, o comércio cresceu 1,8%.
"Vendas no varejo decepcionaram novamente. Em novembro vieram mais fracas do que o previsto mesmo com a Black Friday e em dezembro o Natal não foi tão forte. Assim, os juros futuros caem com aposta que o Copom pode não ter encerrado o ciclo de corte da Selic", diz relatório da Wagner Investimentos.
A queda na taxa básica de juros, atualmente na mínima histórica de 4,25% ao ano, contribui para a depreciação do real por meio do carry trade (prática de investimento em que o ganho está na diferença do câmbio e do juros) , pois o investidor toma dinheiro a uma taxa de juros menor em um país — no caso, os Estados Unidos (EUA) — para aplicá-lo em outro, com outra moeda, onde o juro é maior — o Brasil. Com juros baixos no Brasil, essa operação deixa de ser vantajosa e estrangeiros retiram seus recursos, em dólar, do país, o que eleva a cotação da moeda.
O recuo das das vendas no mês de Natal veio na contramão da expectativa do mercado, que projetava alta de 0,2% nas vendas do período, segundo economistas consultados pela Bloomberg. Para o ano, eles estimavam alta de 3,3%.
— Os dados de atividade econômica continuam abaixo do esperado pelo segundo mês consecutivo, dando fim ao momentum positivo que se construía até outubro. Os fundamentos continuam favoráveis à continuidade da recuperação da atividade econômica, mas esses dados mais recentes colocam dúvida quanto ao ritmo dessa recuperação no curto e médio prazo — disse Felipe Sichel, estrategista do Modalmais.
Já o Goldman Sachs avaliou o dado como moderadamente positivo.
— No futuro, o setor de varejo deve ser apoiado pelo ambiente de inflação baixa, crescimento do emprego, fluxos de crédito firmes e taxas de empréstimo em declínio, mas uma folga ainda significativa no mercado de trabalho e a confiança reduzida do consumidor podem limitar a animação do consumo privado e das vendas no varejo — afirmou.
Com a possibilidade de juros mais baixos, a bolsa brasileira fechou em alta de 1,13%, a 116.674 pontos, maior patamar desde 24 de janeiro. Com vencimento de opções, o giro financeiro ficou bem acima da média, em R$ 74,601 bilhões. O Ibovespa também foi impulsionado pelo exterior favorável. Dow Jones e Nasdaq subiram 0,94% e 1,00%, respectivamente, e S&P, 0,65%, a níveis recordes.
Segundo analistas, investidores se mostram menos preocupados com o coronavírus, enquanto a contaminação e mortalidade da doença desaceleram.
"Investidores também receberam de bom grado o anúncio de Xi Jinping, presidente da China, de que o país irá atingir suas metas de crescimento. O impacto econômico do vírus ainda não é quantificável e altamente incerto, porém dado a expectativa de que terá vida curta, deve ter seu impacto limitado", diz relatório da Guide Investimentos.