A nomeação de Regina Duarte, atriz reconhecida e querida pelo público brasileiro por seu trabalho na televisão, no teatro e no cinema, é a oportunidade para o governo Jair Bolsonaro eliminar focos de tensão em ao menos uma área de sua administração. Empossada nos próximos dias como nova secretária especial da Cultura, Regina precisa retomar o apoio institucional a toda multiplicidade de manifestações da rica diversidade nacional seguindo critérios técnicos, sem interferências, direcionamentos, censuras ou exigências que não sigam o estrito cumprimento da legislação vigente.
Com diálogo e sem sectarismo, Regina Duarte poderá apaziguar os ânimos e compensar sua falta de experiência como gestora
Há muito o que fazer pela cultura brasileira. É preciso conceber uma política construtiva para as artes e para preservação do patrimônio histórico do país. Em primeiro lugar, acenar à pacificação com a classe artística, deixando de lado as polêmicas constantes e inúteis, mas que nos últimos meses acabaram dominando a atenção e tomando o espaço da discussão propositiva. Cultura gera desenvolvimento social e econômico, produz renda, contribui para o turismo e para a qualidade de vida no país. Ao lado do esporte, é arma poderosa para que jovens das periferias não sejam seduzidos pela criminalidade.
Até hoje não se sabe, por exemplo, qual é a política de incentivo para preservação e fomento dos museus no Brasil, no momento em que um número cada vez maior de nações confia a essas instituições o papel de serem guardiãs da manutenção da sua história, tornando-se um ímã para o turismo. Preparado para abrir as portas neste ano, o Grande Museu Egípcio, no Cairo, é um bom exemplo, contrapondo o descalabro que conduziu à tragédia do Museu Nacional, no Rio.
Em um ano e um mês do governo Jair Bolsonaro, a Secretaria da Cultura já teve três titulares, sendo o último, Roberto Alvim, demitido após o grotesco episódio do vídeo que gravou utilizando expressões do ministro da Propaganda do nazismo. Ainda há como recuperar o tempo perdido, mas para isso é preciso estabilidade à frente do cargo, o que significa manter-se longe de polêmicas como as relacionadas à famigerada guerra cultural, cria do autointitulado filósofo cuja última esquisitice, de ontem, é culpar o bilionário Bill Gates, fundador da Microsoft, pelo surgimento do novo coronavírus.
Anda não se sabe, por exemplo, se Regina terá autonomia para alterar parte da equipe que herdou, com nomes controversos na Fundação Palmares ou na Funarte. Mesmo que precise seguir a orientação conservadora de Bolsonaro, com diálogo e sem sectarismo, Regina Duarte poderá apaziguar os ânimos e compensar a sua falta de experiência como gestora. Como apregoava a música-tema de Malu Mulher (1979-1980), série com a atriz como protagonista, é hora de começar de novo na cultura.