Por Gedeão Pereira, presidente do Sistema Farsul
Muito tem se falado sobre os preços das carnes nos supermercados, especialmente da bovina. O que vivenciamos agora é consequência de uma série de fatores que resultaram em um pico muito rápido. Primeiro, é preciso lembrar que este é, tradicionalmente, um período de entressafra no Brasil, o que por si só, já é responsável por um reajuste de valores devido a uma menor oferta, tendo a procura ampliada principalmente em decorrência dos festejos de final de ano.
Este fenômeno coincidiu com um aumento das exportações para a China. A suinocultura daquele país foi dizimada pela peste suína africana. Como seus estoques estavam cheios, o abastecimento ficou garantido até o final deste ano. E para evitar o desabastecimento, saíram às compras concomitantemente pelo mundo, no segundo semestre desse ano, inflacionando os preços internacionais das proteínas animais. Ainda mais com a proximidade do ano novo chinês, que incrementou essas aquisições.
Um levantamento realizado pelo nossa assessoria econômica mostra que o preço do boi gordo caiu 18,36% entre junho de 2016 e setembro de 2018. Isso desestimulou o produtor, que reduziu rebanhos e áreas de pastos para ampliar o de outras culturas, especialmente a soja. O aumento substancial das compras internacionais acabou por gerar o movimento necessário para a recuperação dos preços para valores estagnados desde 2016.
Essa é a realidade no campo, não estamos vivendo um momento de aumento de preços extraordinários, mas a retomada de reajustes que, se fossem de forma gradual, seria menos impactante, mas acabou ocorrendo de forma abrupta. Com a normalização das pastagens e recuperação do peso dos rebanhos do Brasil, os preços deverão ter algum recuo a partir de março. O apetite chinês também não deve manter o nível de novembro e dezembro, mas irão continuar comprando.
Isso trará uma adequação dos preços, porém atingimos um novo patamar e não voltaremos ao anterior. Para quem vive nas áreas urbanas, essas informações podem parecer estranhas. Afinal, no mesmo período de junho de 2016 a setembro de 2018 a variação no varejo foi de -2,04%. Ou seja, o consumidor final não teve a redução do campo repassada às prateleiras, somente os reajustes do período. Reforçando uma afirmação que fazemos nos últimos anos, que os preços no campo não estão relacionados com os dos supermercados a curto prazo.