Por Felipe Martini, diretor-executivo do Procon RS
Os açougues de bairro se transformaram em boutiques de carnes e os supermercados ocuparam, de forma eficiente e avassaladora, o espaço do segmento retalhista. Essa mudança está visível aos consumidores, mas não expõe um outro lado que agora, quando os preços do produto bovino parecem estratosféricos, precisa ser mostrado. Os pecuaristas investiram muito em técnicas de produção e manejo, assim como em raças e cortes mais alinhados ao mercado internacional. A carne brasileira saltou em qualidade.
Se tivéssemos parado no tempo dos açougues de esquina, sem os investimentos dos pecuaristas e do varejo, certamente teríamos que importar quase toda a carne que consumimos. E aí, sim, o churrasco dos gaúchos estaria dolarizado de forma permanente. A carne é produzida com uma matriz de custos nacional, mas a pressão de compradores externos elevaram os preços e a cotação do dólar completou o quadro. Vender aqui como commodity internacional, a preços do Exterior, parece algo despropositado.
Vamos ver alguns dados. De 2016 a 2018, o IPCA acumulou alta de 14%, enquanto o item carnes cresceu 3%. Porém, em 2019 até novembro, aumentou 12,2%, enquanto o índice geral avançou apenas 3,12%. Produtos inseridos em cadeias globais estão sujeitos a oscilações de oferta e demanda. Apenas para rememorar, em 2014 vivemos situação semelhante. Por conta de problemas diplomáticos, a Rússia deixou de comprar carne dos EUA e passou a importar do Brasil. Naquele ano, a inflação brasileira foi de 6,41%, mas as carnes avançaram 22,3%. Acreditamos que, nos próximos meses, o quadro vai se equilibrar. Choques temporários ocorrem e resta ao consumidor buscar alternativas. Entre 2012 e 2018, o IPCA acumulou alta de 50% e as carnes subiram 47%. Ou seja, a história recente mostra que são aumentos temporários e a possibilidade de escolha do consumidor por outros tipos de carnes certamente encurtará esse episódio.
Nós, do Procon RS, estamos atentos e entendemos as oscilações econômicas globais, mas não toleramos práticas abusivas ou condutas que venham ferir o nosso Código de Defesa do Consumidor. Aproveitadores do momento econômico desfavorável ao consumidor serão fiscalizados e punidos. Saudamos sim o livre mercado, mas livre com respeito a quem faz a economia brasileira avançar, que é o consumidor, sua liberdade escolha e seu poder de consumo. Viva o churrasco gaúcho!