Por Dom Jaime Spengler, Arcebispo metropolitano de Porto Alegre e primeiro vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)
No findar de mais um ano, deparamos com situações que geram preocupação em nosso país: a alta taxa de desemprego; a lenta recuperação da economia; a degradação de serviços públicos; a pouca atenção para com as questões ambientais; a promoção de polarizações, sobretudo no âmbito da atividade política; a falta de um projeto de nação; expressões da classe política e do Judiciário marcadas pela falta de ética e atenção para com os menos favorecidos da sociedade. Em nível internacional também se constatam inquietações, como o aquecimento global e as diferentes formas de desvalorização do ser humano.
Se no horizonte despontam sinais de preocupação com a causa da prepotência de alguns, na aurora do novo ano despontam lumes de esperança: a determinação de setores da sociedade em investir em prol da educação e da saúde, mesmo sem o apoio do poder público; a queda dos juros da economia; o encaminhamento de algumas reformas que o Brasil e o Estado precisam; sinais, ainda que fugazes, de recuperação da atividade industrial; o Sínodo para a Região Amazônica, trazendo para o centro dos debates a questão climática, ambiental e dos povos nativos.
Cuidar da vida e promovê-la, compreender que o grau de civilidade depende do engajamento e da disposição comum em favorecer o bem comum, perceber a necessidade de mais poesia nas relações interpessoais, resgatar aquela força originária que permite a poetas, artistas, pensadores e místicos contemplar tudo a partir do êxtase, são condições para o desenvolvimento da nação.
Resgatar e promover a esperança é fundamental para que todos possam usufruir dos bens da criação e responsabilizar-se pelo bem comum. O compromisso ético no cuidado com o meio ambiente e no respeito pela coisa pública é garantia de uma sociedade mais justa, fraterna e pacífica.