Por José Cesar Martins, sociólogo, fundador da Paradoxa Ventures
Investir em startups é uma aposta atraente mas extremamente arriscada, precisando-se filtrar entre milhares de ideias novas que, via de regra, dão errado. Mesmo assim, muitas gigantes de tecnologia cresceram sustentadas por investidores, e o sonho de participar do próximo Facebook ou Twitter é sedutor.
Os recursos para startups cresceram muito no Brasil: no final de 2018, eram mais de R$ 16 bilhões comprometidos, o dobro de 2017. Mesmo Porto Alegre possui fundos locais, da tradicional incubadora do Tecnopuc a fundos consolidados como a CRP e a WoW, e uma plataforma porto-alegrense (chamada Captable, ela mesmo uma startup) que permite investir diretamente em startups. Isso tudo além dos inúmeros investidores individuais "anjos", que não entram na estatística.
Mas são raros os que conseguem filtrar startups com sucesso. Inovar não é fácil: mesmo a gigante Uber ainda dá prejuízo e não se provou sustentável. William Sahlman, professor de Harvard, revela que os sucessos de startups se concentram desproporcionalmente em um punhado de investidores renomados, devido a um processo que se retroalimenta: os melhores investidores encontram os melhores empreendedores, que, por sua vez, tornam seus fundos mais atraentes.
Hoje, startups não querem apenas dinheiro, mas acesso à rede, ao conhecimento e o reconhecimento público de um fundo de excelência. Ainda, investidores privados têm incentivos alinhados, com seu sucesso atrelado à startup: se o filtro for ruim, eles perdem tudo.
É por isso que o papel do investidor de risco é inerentemente privado, sendo equivocado criar um fundo público para startups. Não apenas já existe capital disponível para inovação como um fundo público será pouco atraente para os empreendedores de maior chance de sucesso. Mais importante ainda, falta alinhamento: se a aposta der errado, os prejuízos serão socializados.
A cidade acaba de acertar suas contas depois de 15 anos no vermelho. São inúmeras prioridades de natureza pública, de segurança a regularização de favelas, nas quais os recursos devem ser investidos de forma mais segura e mais eficiente e de natureza de fato pública, não disponível no setor privado. Não é momento de jogar com dinheiro público na roleta das startups.