Todos os dias, 170 mil gaúchos dependem do trensurb para se locomover. Ontem, por mais de três horas, esse que é um dos principais meios de transporte da Região Metropolitana entrou em colapso. O alegado problema técnico foi creditado ao vandalismo, hipótese plausível, mas que carece ainda de comprovação oficial. Os reflexos foram sentidos não apenas nas imediações da Capital, mas em outras cidades que sofreram com o efeito cascata do infarto de mobilidade que atingiu milhares de gaúchos. As cenas nas portas das estações foram lamentáveis. Pessoas sem informação, angustiadas pela impossibilidade de chegar ao trabalho e a outros compromissos, que tiveram de esperar.
É fundamental apurar responsabilidades sobre o ocorrido, ainda mais quando a privatização da Trensurb entrou definitivamente na pauta do debate nacional
Embora imprevistos desse tipo ocorram em todas as grandes cidades do mundo, o caos no trensurb expôs ontem, mais uma vez, a ineficácia dos fundamentais planos de contingência. A EPTC, órgão responsável pelo trânsito na Capital, alega ter sido informada tardiamente sobre a paralisação, potencializando, assim, transtornos que poderiam ser minimizados com ações envolvendo ônibus e outras providências. Já a Trensurb garante que tentou contato desde a madrugada, mas não conseguiu até por volta das 7h, quando a confusão já ganhara dimensões consideráveis.
Um cabo de fibra óptica rompido, que teria impossibilitado a comunicação entre estações e que estaria na raiz da pane, simboliza com lamentável precisão os cortes na rede que deveria proteger o cidadão. Por isso, é fundamental apurar responsabilidades sobre o ocorrido, ainda mais quando a privatização da Trensurb entrou definitivamente na pauta do debate nacional.
Nesse contexto, passar a empresa para a gestão privada representaria maiores possibilidades de investimentos e de cobranças por parte tanto dos usuários quanto do próprio poder público, ao qual caberá, depois da privatização, a responsabilidade de estabelecer os parâmetros de operação e de medição de qualidade do serviço, evitando escândalos como o revelado em maio do ano passado pelo Grupo de Investigações da RBS: a um custo de R$ 244 milhões, 15 veículos foram comprados pela estatal, mas a maior parte ficou três anos parada devido a problemas injustificáveis, que passaram pela má qualidade das peças e por outros problemas de fabricação. A população gaúcha merece mais, até porque já paga caro por isso.