As horas iniciais do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fora da prisão sinalizam o risco de o país continuar preso na arapuca da polarização extrema. Tudo o que o Brasil não precisa neste momento, quando mal conseguiu sair dos escombros da crise política e econômica, é de mais lenha na fogueira da radicalização. O tom de confronto demonstrado por Lula em seus primeiros discursos, com ataques frontais à Lava-Jato e ao presidente Jair Bolsonaro, vai nesta inconveniente direção.
O estímulo a um tensionamento ainda maior na sociedade traz de volta o perigo de a beligerância pura e simples tomar o espaço do bom debate
A exacerbação e o estímulo a um tensionamento ainda maior na sociedade trazem de volta o perigo de a beligerância pura e simples tomar o espaço do bom debate que seria essencial quando o Brasil precisa discutir e aprovar uma série de reformas vitais para sair do atraso em que se meteu nos últimos anos. Muito desta ruína, aliás, foi fruto da paralisia criada pela própria conflagração originada pelo rancor reciprocamente nutrido pelos dois polos. Agora, parecem novamente contar com o confronto para sedimentar seus grupos de apoio.
A disputa política é própria das democracias. Governos têm de conviver com oposições. Mas é fundamental fazer prevalecer a civilidade, a responsabilidade e o ponderamento. Seria péssimo que o Congresso, caso contaminado pelos ruídos do acirramento, se desconcentrasse das tarefas reformistas, a pauta que verdadeiramente importa ao país. Ainda mais na hipótese de o governo Jair Bolsonaro, já desprovido de base sólida e pródigo em parir as próprias crises, der ainda mais prioridade à batalha ideológica.
Esta é a hora em que as instituições precisam demonstrar maturidade e as vozes moderadas, mais do que nunca, precisam assumir protagonismo e se fazerem ouvir. É crucial trabalhar para apaziguar os ânimos e mostrar aos brasileiros que o melhor caminho não está nas vias extremas. Ninguém é obrigado a necessariamente filiar-se a uma das correntes maniqueístas de pensamento.
Os radicais e fanáticos, à direita ou à esquerda, devem ser deixados de lado pelos que apenas querem a restauração da paz e da confiança para recuperar o seu emprego, trabalhar e tocar os seus negócios sem os sobressaltos constantes que marcam a história recente do país. Que os contendores fiquem falando sozinhos até caírem no isolamento político, vencidos pela racionalidade e pelos argumentos sólidos. Deve ser repelida toda e qualquer incitação à tensão social, assim como ameaças de respostas autoritárias. A radicalização é uma armadilha para o Brasil.