O pacote do governo Eduardo Leite que chega à Assembleia e propõe uma profunda reforma do Estado, alterando inclusive regras de aposentadorias, deve ser o início de uma inevitável guinada na dramática situação fiscal do Rio Grande do Sul. Alterar carreiras, extinguir benefícios em todos os poderes, mudar estatutos e sobretudo mexer no sistema previdenciário são medidas que passam longe de serem populares, mas não é possível perder de vista que, se nada for feito, o poder público caminhará inexoravelmente para o colapso total. Seria um quadro em que os problemas de atrasos salariais tenderiam a se agravar e a qualidade dos serviços prestados aos gaúchos pioraria ainda mais.
No fim deste longo e doloroso processo de ajuste, o que se espera é um retorno mais justo para os impostos pagos pela população, em forma de melhores serviços
Com o pacote e os efeitos da reforma da Previdência federal, o Piratini estima economizar em torno de R$ 17 bilhões em 10 anos. É pouco para a profundidade do buraco. Pelos cálculos da Secretaria da Fazenda, significa 12% do rombo previdenciário projetado para o período. Mas, de qualquer forma, é uma sinalização importante. Mostra o esforço para começar a equacionar uma situação que, ao longo das décadas mais recentes, mostra-se mais preocupante a cada exercício. É importante sublinhar que servidores e aposentados não são os responsáveis pelo fato de o Estado ter chegado à beira da calamidade.
A realidade atual é cria de sucessivos governos e legislaturas lenientes, que concederam uma série de benefícios de forma pouco responsável, como se a fatura com juros dessas bondades um dia não fosse aparecer. E chegou, apresentada a todos os gaúchos. Mas diagnósticos para os problemas do Rio Grande do Sul não faltam. Tampouco adianta apontar culpados. Resta agora ter a responsabilidade de não repetir os mesmos erros, olhar para a frente e focar nas soluções. Não foi em um punhado de anos que o governo gaúcho alcançou a atual situação pré-falimentar. Da mesma forma, não há bala de prata para reverter a crise.
O que a sociedade precisa perceber é a questão de fundo. O Estado tem de dispor de um mínimo de recursos para atender a necessidades básicas da população e voltar a pagar salários em dia. A recuperação da saúde financeira será benéfica para todos, inclusive para os servidores e seus familiares. Mesmo que, neste momento, sejam chamados a dar a sua cota de sacrifício. No fim deste longo e doloroso processo de ajuste, o que se espera é um retorno mais justo para os impostos pagos pela população, em forma de melhores serviços de saúde, segurança, educação e obras de infraestrutura.