Por Igor Oliveira, consultor empresarial
Uma semana atrás, GaúchaZH destacou o crescimento da soja, que hoje é a principal fonte de renda da agricultura familiar no RS. Com menos mão-de-obra jovem disponível no campo, o agricultor não pode se dar ao luxo de optar por culturas mais complexas. A soja apresenta-se como um produto de prateleira: alguém (com interesses comerciais pouco transparentes) vai explicar exatamente qual semente comprar, quanto defensivo utilizar. Com comprador garantido, o pequeno produtor dorme tranquilo.
Uma das causas apontadas para o crescimento da soja é a aceleração do setor de biodiesel. No entanto, os dados mostram que a tendência de conversão para soja já seria fortíssima sem o aumento da mistura de biodiesel, que não parece ser tão determinante nesse processo. Participei de um estudo recente que mostrou que o biodiesel até pode acabar contribuindo com o êxodo rural, porém apenas em cenários de grande crescimento da economia urbana.
O problema é que, no mundo das commodities agrícolas, é praticamente impossível ganhar dinheiro de verdade sem dominar a cadeia produtiva toda. Os preços oscilam, e com eles oscila o negócio do agricultor que aposta forte demais nelas, colocando todos os ovos na mesma cesta. Apesar das ilusões de curto prazo, ao final de uma década, seu patrimônio tende a permanecer estável.
Uma variável altamente subestimada nessa equação é o preço da terra, tanto para quem planta em seu próprio terreno quanto para quem arrenda. Ter inteligência quanto ao momento certo para comprar, vender e arrendar é muito difícil, porém altamente determinante em um horizonte de longo prazo.
Hoje essa inteligência fundiária só está disponível para grandes atores: bancos, multinacionais e tradings. O preço da terra é influenciado pelos mercados globais de grandes culturas e de terras, bem como pela tendência climática local, urbanização, infraestrutura e uma série de outros aspectos. É algo mesmo complexo, que dificilmente o pequeno produtor vai dar conta de prever.
As palavras-chave para fugir dessa armadilha são diversificação e adaptabilidade. Diversificação entre culturas com comportamentos de preço distintos, e também entre atividades ao longo da cadeia produtiva. Adaptabilidade vem com o planejamento para mudar de ramo, seja no próprio campo ou na cidade. Isso requer poupança e estudo, duas coisas difíceis de se adquirir quando se planta soja em uma pequena propriedade.