Por Igor Oliveira, consultor empresarial
Foi divulgado na última terça-feira o relatório da pesquisa anual Startup Heatmap, que desde 2016 busca entender quão interconectado está o ecossistema europeu de startups. A análise abrange mais de 100 cidades europeias, dezenas de variáveis que ajudam a descrever a dinâmica de ecossistemas e um questionário com mais de 1500 fundadores de startups.
A mobilidade desses fundadores vem aumentando. Mais de 30% está fora de seu país de origem. 55% das startups europeias estabelece um escritório internacional no primeiro ano de operação. Londres, Berlim, Barcelona, Paris e Lisboa destacam-se como centros de redes transnacionais utilizadas por startups para desenvolver seus negócios. No entanto, Londres e Berlim atingiram em 2019 o menor índice de popularidade desde o início da pesquisa.
Apesar de ter assistido o crescimento das cenas locais de startups em lugares como Barcelona e Lisboa, o Startup Heatmap pondera que, desde 2016, o investimento em startups cresceu 49% nas quatro cidades que mais recebem dinheiro (Londres, Paris, Berlim e Estocolmo), enquanto no resto da Europa a injeção da capital estagnou.
Uma das grandes perguntas no campo do desenvolvimento de ecossistemas é: por que o investimento de risco não acompanha o crescimento das comunidades locais de startups?
Parte da resposta está no tempo que leva para uma comunidade de startups realmente produzir negócios consistentes e para que esses negócios sejam investidos. Esse é um processo mais bem medido em décadas do que em meses.
Há também mecanismos que fazem com que as cenas dominantes permaneçam no topo. Empreendedores de sucesso costumam tornar-se boas fontes de inspiração, competentes mentores e melhores investidores do que aqueles profissionais que fizeram carreira no setor de investimentos. Podem até mesmo tornar-se clientes mais compreensivos do que a média. Como em boa parte dos casos esses empreendedores permanecem ligados às cidades onde outrora receberam investimentos, tendem a reforçar os investimentos nesses lugares.
Toda cena de startups em estágio inicial precisa supervalorizar um pouco seus primeiros casos de sucesso para aproveitar esse mecanismo de reforço, porém sem errar a mão a ponto de gerar uma sensação de hipocrisia. Esse é um dos desafios das pessoas que trabalham para desenvolver ecossistemas.