Por Igor Oliveira, consultor empresarial
Aprendi a respeitar toda experiência política. Embora não concorde com tudo o que diz Greta Thunberg, vejo ali muito aprendizado. Greta ainda vai ser, como também fui em minha humilde prática política, aparelhada. Terá seu discurso utilizado de formas que nem imagina, por gente que se diz contrária, e, sobretudo, por gente que concorda com ela. Verá seus argumentos distorcidos por líderes autoritários que se vendem como salvadores da humanidade.
Tudo isso vale a pena. É assim que as narrativas políticas evoluem, se adaptam ao espírito do tempo. O fazer político precisa ser o mais livre possível para que superemos as grandes crises da civilização. Greta precisa continuar a aprender.
Tenho notado uma diferença entre aqueles que falam da crise climática como um risco futuro e aqueles que a consideram um problema no presente. Entre os líderes africanos com quem estive em contato em minha atividade profissional, o presente é o tempo verbal utilizado. Entre agricultores brasileiros, com quem interagi por razões acadêmicas, ouvi uma mistura entre presente e futuro.
Toda semana surge uma nova crise climática regional, alertou ao Guardian o representante especial da ONU para redução de riscos de desastres, Mami Mizutori. Uma seca que atinge nível catastrófico, um ciclone onde não deveria haver, um incêndio florestal fora da curva.
É hora de usar mais o tempo presente e agir pela adaptação climática, ao invés de colocar todas as fichas em uma governança global da mitigação.
Governos assumem compromissos públicos, fazem algumas ações gestuais. Tudo isso para sutilmente voltar atrás. Um exemplo é o que descreveram recentemente dois pesquisadores da HEC Montreal e da Universidade Johns Hopkins: o governo americano está comprando barato, por meio de duas instituições financeiras semi-estatais, a dívida imobiliária podre de regiões costeiras onde há alto risco de inundação. Com isso, incentiva investimentos habitacionais em áreas onde, provavelmente, a terra vai virar mar. Em outras palavras, gente vai perder suas casas depois de ter pago anos de hipoteca.
Se não desenvolvermos uma inteligência civil pela adaptação climática, provavelmente seremos engolidos por atitudes nefastas.