Por Igor Oliveira, consultor empresarial
As reações à minha última coluna fizeram com que me desse conta que o debate sobre fogo na Amazônia também pode ser uma distração. Os leitores mais atentos, apoiadores ou críticos do atual governo, entraram em um debate infindável sobre se o fogo estaria agora maior do que antes. Enquanto discutimos, a área total de floresta segue diminuindo, e, se ela chegar ao ponto de não retorno, perderemos para sempre aquilo que conhecemos como Floresta Amazônica.
O fogo pode ser visto como um alerta, não mais do que isso. Com o fim da floresta, perdemos a capacidade de plantar nossos principais produtos agrícolas em boa parte do território nacional. E o potencial de gerar novos produtos a partir de capital genético. Jogamos muito carbono na atmosfera, o que vai custar caro à humanidade e ao país, visto que haverá retaliações de outras nações. Por melhor que negociemos e aleguemos que as outras nações também desmataram, alguma coisa vamos perder.
Imagens de satélite são apenas um dos tipos de informação para entendermos desmatamento. Outro tipo importante é a transparência de cadeias produtivas. Com a plataforma Trase (www.trase.earth) é possível, por exemplo, ver que gigantes do agribusiness como Bunge, Cargill, ADM e Amaggi compram parcelas relevantes da soja que exportam em municípios amazônicos com déficit de reserva legal, onde deveria haver mais floresta.
Também é possível ver que a maior parte da área amazônica onde há compra de soja pela empresa com menor compromisso ambiental, a chinesa COFCO, fica no Mato Grosso, em Nova Ubiratã e Canarana. Brasileiras como Caramuru e Fiagril compram de áreas de alto risco de desmatamento para soja, em municípios como Feliz Natal e Nova Maringá. A nipo-americana Gavilon compra de localidades com desmatamento recente. A China é grande compradora de soja originária de áreas problemáticas, via Santarém, São Luís e Santos.
Isso tudo para mostrar como a informação poderia ser útil para combatermos o desmatamento – fica mais fácil para autoridades e sociedade civil combaterem o problema. Além da soja, é preciso exigir transparência total das cadeias da carne, madeira, mineração e ao registro e posse de terras no País. Com esses cinco setores transparentes, o desmatamento seria praticamente inviável – os desmatadores estariam nus.