Por Igor Oliveira, consultor empresarial
Em setembro de 2017, publiquei argumentos contrários ao relaxamento da fiscalização na Amazônia. Demonstrei que isso geraria perda de produtividade agrícola e de valiosos patrimônios que temos na floresta. Mencionei a existência de um ponto de não retorno do desmatamento, a partir do qual a degradação da floresta seria incontrolável.
Meses depois, escrevi sobre alguns aprendizados que tive estudando guerra climática na África: fatores que causaram conflitos eram observáveis durante décadas antes do estopim.
Ano passado, Thomas Lovejoy e Carlos Nobre reviram suas previsões acerca do ponto de não retorno: estava muito próximo, alertavam os cientistas. Imediatamente, comecei a construir um modelo computacional para estudar a plausibilidade quantitativa e temporal desse fenômeno. Embora não seja possível determinar exatamente quando acontece esse ponto crítico, consegui tirar algumas lições.
Esse ponto é justamente o momento em que deixamos de ter culpados diretos pelo desmatamento, visto que a degradação espontânea da floresta passa a ocorrer de forma mais intensa. O tema fica ainda mais difícil de explicar: não é apenas o grileiro, madeireiro, pecuarista ou agricultor do presente que gera o fogo, mas todo o acúmulo de destruição desde décadas atrás.
Depois desse ponto, políticas de regeneração da floresta, muito mais caras que as de proteção, passam a ser necessárias.
O desmatamento para fins agropecuários não diminui proporcionalmente à queda da produtividade. Capital acumulado segue sendo usado para desmatar. O financiamento do desmatamento muitas vezes é oriundo de outras atividades ilícitas.
Em alguns cenários, o desmatamento pode até aumentar com queda de produtividade, em uma tentativa dos fazendeiros manterem o mesmo lucro do passado por meio de expansão da área. Foi o que aconteceu no Sudão: pecuaristas aumentaram rebanhos quando o lucro por animal diminuiu, o que gerou conflitos fundiários que desembocaram em uma guerra civil. Estaremos cada vez mais próximos disso se não pararmos o desmatamento.