Um dos Estados do país mais voltados à exportação, o Rio Grande do Sul tem razões de sobra para acompanhar com atenção os desdobramentos do cenário desafiador da economia global. A guerra comercial entre Estados Unidos e China amplia o alerta de desaceleração da atividade mundo afora, situação que poderia até se agravar para um quadro recessivo, potencializando efeitos nefastos como a queda da demanda e a redução de preços, acirrando a competição entre os países. Para os gaúchos e para o Brasil, um mau sinal diante da lenta recuperação do PIB nacional. Há ainda um complicador regional. Importante mercado da indústria gaúcha, a Argentina aprofunda a sua mais nova crise e tende a ser um cliente bem mais comedido, ao menos no médio prazo.
É o momento para formatar e oferecer, com segurança jurídica, bons projetos de concessões e parcerias público-privadas
Há janelas para ganhos pontuais com as desavenças entre americanos e chineses, como na soja e nas carnes, em que o Brasil – e o agronegócio gaúcho – concorre com os Estados Unidos. Mas as sequelas tendem a superar benefícios ocasionais. Outras commodities importantes para o Brasil, como celulose, minério de ferro e petróleo, estão longe de seus melhores momentos em termos de cotações, reflexo da menor procura pelas matérias-primas, sintoma de perspectivas sombrias para a economia global. Dados da OCDE divulgados na semana passada mostram que, no segundo trimestre, o comércio exterior dos países do G20 manteve a tendência de declínio, com destaque exatamente para as duas maiores potências mundiais.
O panorama de preocupações se reflete em movimentos como a valorização do dólar e do ouro, ativos considerados reserva de valor e porto seguro dos investidores em momentos de incerteza. O câmbio apreciado, em tese, poderia ajudar os exportadores, mas como é generalizada a desvalorização das moedas
dos emergentes e o apetite por trocas internacionais mostra fraqueza, é difícil esperar efeito positivo. Por outro lado, o dólar forte ante o real alimenta certo temor de repique da inflação, o que pode ameaçar a tendência de corte da Selic pelo Banco Central.
Mas há também oportunidades no momento atual. Como a sensibilização para não arrefecer com as reformas no Brasil. Vive-se uma era em que vários países têm juro zero ou mesmo negativo e investidores vasculham, pelo mapa-múndi, onde aplicar seus recursos. É o momento para formatar e oferecer, com segurança jurídica, bons projetos de concessões e parcerias público-privadas, por exemplo. Principalmente em infraestrutura, uma deficiência crônica do Rio Grande do Sul. A economia vive de ciclos. Inclusive a brasileira, apesar da demora em deixar para trás a crise em curso. Cedo ou tarde, o país vai retomar a trajetória de crescimento.