Por Luciano Alabarse, secretário municipal de cultura de Porto Alegre
Minha geração quis mudar o mundo. Atuou, agiu e gritou para isso. Milhares saíram as ruas para demonstrar essa urgência. Queríamos a felicidade aqui e agora. A vida não merecia ser reduzida ao código binário que divide tudo em certo ou errado, como se a complexidade do comportamento humano não comportasse nuances e diferenças. A cultura representou papel crucial nessa cruzada. Muito se plantou, muito se colheu.
Na turbulência vívida dos dias atuais, uma Nova Idade Média quer nos impor de novo padrões artísticos e códigos comportamentais já superados. Sem chance. Não é da natureza humana andar para trás.
Em uma Porto Alegre que nos últimos meses presenciou tentativas censórias diante de manifestações culturais diversas, o início da 26ª edição do Porto Alegre em Cena, é uma bênção. Para aqueles que querem arte plural e de qualidade, o nosso mais representativo festival está aí a nos encher de orgulho. Refinada e popular, acessível e instigante, tradicional e distópica, a programação deste ano dissipa o medo das trevas e propõe aplaudir todas as coisas que brilham em sua plenitude de linguagens e gêneros. O teatro pulsa em um evento libertário e inclusivo, espalhado não só nos nossos teatros mais nobres, mas também ao alcance das zonas mais vulneráveis da população.
Reconhecido como o festival teatral mais importante do Brasil, o Em Cena está envelhecendo bem, sem sinais de acomodação à sua própria história. Sob a direção de Fernando Zugno, e com a presença cada vez mais sólida de patrocinadores que entendem o valor e a função de sua programação, com uma equipe jovem e aguerrida, teremos em Porto Alegre um festival internacional que não ficará a dever a nenhum outro festival do planeta. Entre nessa festa.
Que seja a prefeitura, através da Secretaria Municipal de Cultura, a oferecer esse cardápio de finas iguarias à uma cidade nervosamente esfomeada de arte, é um sinal legal de comprometimento e liberdade. Porque sim: a gente não quer só comida.