Por Ricardo Hingel, economista, consultor e conselheiro de empresas
No artigo anterior, referi que a visão prospectiva e estratégica dos conselhos de administração é fundamental para a definição dos rumos das empresas. Pensar na performance futura deve estar no centro da dinâmica desses órgãos.
Alguns setores mais, outros menos, todos estão sendo impactados pelas evoluções tecnológicas, o que faz com que as mutações do mundo econômico nunca tenham sido tão intensas e desafiadoras. As mudanças tecnológicas não apenas oferecem oportunidades de mudança e ajustes ao mundo moderno, mas as impõem.
Indústrias necessitam mudar seus parques tecnológicos para atender a necessidades de maior qualidade em seus produtos e processos, mantendo-se assim atualizados e produtivos e com a oferta de produtos inovadores, única forma de acompanhar uma concorrência crescente. Produtos competitivos e a custos cadentes só se darão com adoção continuada de tecnologia.
O setor de varejo, que se serve de uma indústria crescentemente criativa, necessita também inovar em seus canais de distribuição digital. Atualmente não basta que varejistas tradicionais abram seus canais de venda por internet, pois a expansão dos chamados marketplaces tende a tornar esses canais importantes, mas não suficientes. Os marketplaces funcionam como hubs que oportunizam que clientes acessem através de um único meio diversos fornecedores do produto desejado. Oferecem diversidade de comerciantes e proporcionam uma pesquisa de preços eficiente, além de compras seguras. Em alguns segmentos do varejo em produtos padronizados, como linha branca, a competição está dada. Segmentos como vestuário, onde as confecções, com seus padrões específicos e tamanhos diversos, têm muito ainda a inovar para atender o cliente de forma mais eficiente e segura quanto a sua satisfação.
Também no mercado bancário há uma disrupção gerada pela tecnologia. Por ser um segmento que demanda muita escala para o atendimento de milhões de clientes e uma diversidade de produtos e serviços, a disponibilização de tecnologias cada vez mais avançadas e acessíveis gera novos competidores em um mercado extremamente concentrado. Não tem escapado de ninguém a chegada dos bancos digitais e do open banking, espécies de marketplaces do sistema financeiro, e a guerra das maquininhas, todos abrindo brechas em sistemas oligopolizados.
A dinâmica dos conselhos de administração deve sempre estar centrada nas inovações tecnológicas que afetarão seus mercados e produtos, pois como em qualquer circunstância, a antecipação será sempre determinante.