Por Lívia Ruas - Cineasta
Curiosidade, culpa, preconceito, medo, punição divina e social. Sentimentos que afloram à pele de muitos que batalham pela sexualidade. Anseios que invadem os pensamentos de uma maneira avassaladora. A preocupação com o julgamento causa a maior das angústias – o sentimento de decepcionar, muitas vezes, as pessoas que planejaram uma vida "perfeita" desde o momento em que nascemos.
Negação, vergonha, religião seriam usados como motivos para "a cura". Muitos passam por sofrimento psicológico e até físico para ter uma vida nos padrões sociais. Um caminho mais fácil que a convivência com os olhares dos juízes da vida.
Desperta tristeza perceber que muitos são os renegados pela família, simplesmente por expressarem amor a alguém do mesmo sexo. Tenho amigos que relutaram para assumir sua sexualidade, não só para os outros, mas também para si. Ao ler e ouvir histórias sobre o tema, tive a ideia de escrever um roteiro sobre o drama destas pessoas.
Ao roteirizar e dirigir o curta-metragem "Levítico 20:13 – A cura", mostrei o ponto de vista das pessoas que enquadram a vida aos padrões da sociedade heterossexual, constituindo a família tradicional, mesmo que isso traga sofrimento. Também busquei inspiração no fanatismo religioso que, por vezes, impõe culpa com punição psicológica e, até mesmo, física.
Em 2017, uma decisão de primeira instância da Justiça do Distrito Federal que liberava a prática de terapias de reversão sexual, a chamada "cura gay", foi derrubada pela ministra Carmen Lúcia do Supremo Tribunal Federal. Um raio de sobriedade em meio a escuridão. Época de debatermos e trazermos o assunto para o dia a dia.
Sempre questionei o papel de quem que vive da arte. Devemos trazer o debate e inspirar uma sociedade mais aberta. Vai muito além de entretenimento. Um trabalho que questiona, incomoda e faz pensar. Em tempos de polarização precisamos falar ainda mais alto. Um outro mundo é possível!