Trata-se de um falso dilema a mais recente polêmica entre produtores rurais e ambientalistas brasileiros. A celeuma ao redor da Medida Provisória 867, que altera o Código Florestal, expõe a obsoleta incapacidade de compreender que a preservação ambiental não é mais questão ideológica, mas uma exigência do mercado. Uma nova geração de consumidores, especialmente na Europa e nos Estados Unidos, incluiu, definitivamente, o respeito dos fornecedores à natureza em seus fatores de decisão de compra, seja de alimentos, de serviços ou de produtos industrializados.
O campo e os seus negócios formam uma ilha de prosperidade em um país que pena para sair da crise
Aprovado em 2012 depois de um amplo debate, o Código Florestal é passível, como qualquer norma, de discussão e aperfeiçoamento, desde que garantida sua função de aliar desenvolvimento econômico à fundamental preservação do ambiente. Na contramão dessa lógica, a MP em avaliação pelo Congresso prevê menos obrigações no que se refere à recuperação, com vegetação nativa, de áreas desmatadas.
A Câmara aprovou o texto-base da MP na última quarta-feira, mas o Senado se negou a apreciá-lo. Seu presidente, Davi Alcolumbre, alegou falta de acordo na Casa. Em um almoço promovido pelo Lide e pela Federação Israelita do Rio Grande do Sul, na sexta-feira, em Porto Alegre, Alcolumbre explicou a dificuldades para se chegar a consensos na elaboração das pautas. A profusão de siglas representadas nas reuniões de líderes (18) transforma cada um desses encontros em uma babel de opiniões.
Contaminada pelo clima de radicalismo reinante no país, essa discussão precisa ser devolvida a paradigmas racionais. Dividir produtores rurais e ambientalistas em mocinhos e bandidos, ou vice-versa, é uma simplificação nociva aos interesses do país. São inúmeras as experiências, dentro e fora do Brasil, que conciliam a geração de riqueza e empregos ao manejo sustentável da natureza. São esses os exemplos que devem nos inspirar, e não o ranço que ameaça contaminar o futuro na Nação.
A julgar pelos sinais em Brasília, a tendência é de que o Senado não vote a MP hoje. Com isso, o texto caducará. A estratégia do Planalto é reeditar a medida. Assim, haverá tempo para aprofundar o debate no Congresso, onde todas as forças da sociedade nele representadas poderão discutir razões e consequências das alterações. É cada vez mais significativa a relevância do tema para a imagem externa do Brasil. O campo e os seus negócios encadeados formam uma ilha de prosperidade em um país que pena para sair da crise. Se crescer a percepção de que o governo Jair Bolsonaro não tem compromisso com a preservação ambiental, os produtores brasileiros, incluindo os do Rio Grande do Sul, correrão o risco de perder mercados significativos no Exterior.