Por Pedro Dutra Fonseca, professor titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFRGS
Economia já foi chamada de “ciência lúgubre”, pois trata de temas desagradáveis. Mas também é estranha, ao se prestar para convencer sobre algo que se quer que ocorra. Não raramente se recorre a argumentos aparentemente lógicos e sedutores, mas que, na verdade, não têm fundamentação empírica nem se comprovam. Depois, como é impossível voltar no tempo, nada acontece.
E isso independe de posição ideológica. Exemplos não faltam. Nos anos 1970, o ministro Delfim Neto convenceu que se deveria estimular a compra de uns bancos por outros. O real motivo ainda é controverso, mas o argumento — aparentemente lógico e sedutor — seria enxugar custos e, com isso, baixar juros. O resultado foi menor concorrência, que até hoje pesa para as altas taxas de juros cobradas pelos bancos e as baixas pagas aos clientes na captação. No Plano Cruzado, no governo Sarney, o congelamento de preços foi “vendido” não apenas para combater a inflação, mas para diminuir a incerteza dos empresários, que retomariam os investimentos. O congelamento, é óbvio, majorou a desconfiança e levou à recessão. No governo Dilma, resolveu-se aumentar subsídios e desonerações fiscais a setores escolhidos para que seus donos, mais felizes, investissem mais.
Ao contrário, a recessão se aprofundou, e o dinheiro deve estar rendendo juros – no Exterior ou aqui, em aplicações bancadas pelo próprio governo. Já Temer defendeu a reforma trabalhista para gerar mais emprego – a rigor sua única vantagem, pois todos sabiam que precarizaria as relações de trabalho. Lógica sedutora: maior flexibilização, mais emprego. Mas isso não ocorreu, restou o ônus sem o bônus: 12 milhões de desempregados.
Mas ainda há os que aguardamos o desfecho. Como no setor aéreo, e nem falo da Embraer, cujas consequências demorarão. Lembram que o pagamento da bagagem era para baratear o preço das passagens? O argumento seduziu, mas não funcionou, e seus defensores nem ficaram corados com o blefe. Vale o mesmo para a abertura de 100% para investidores estrangeiros. Será mesmo que veremos baratear passagens e fretes? Já a reforma da Previdência, é claro, diminuirá o déficit público, pois as despesas cairão. Mas quem garante o prometido crescimento? Sempre otimista, espero que o futuro nos reserve mais do que a sedução do argumento.