Por Pedro Dutra Fonseca, professor titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFRGS
O pouco destaque ao falecimento de João Paulo dos Reis Velloso, um dos homens mais influentes do país nas décadas de 1960 e 1970, atesta como o mundo dá voltas e permite refletir sobre o fim do Ministério do Planejamento com a criação da superpasta da Economia.
A gênese do ministério ocorreu quando Vargas, em 1951, criou uma Assessoria Econômica subordinada diretamente a ele e com sala no Catete. Chefiada por Rômulo de Almeida, tinha como tarefa pensar o longo prazo e propor projetos estratégicos para o país. À Fazenda, caberia a política de estabilização: controle da inflação, equilíbrio das contas e do balanço de pagamentos. Predominava, naquela geração de homens públicos, a despeito do corte direita/esquerda, a convicção de que o desenvolvimento era o caminho para um futuro mais pujante e menos desigual. A influência da pasta evidencia-se por seus titulares: Celso Furtado, Roberto Campos, Hélio Beltrão, Delfim Neto…
Reis Velloso ficou no cargo por 10 anos, de 1969 a 1979. Coube-lhe a execução do 2° Plano Nacional de Desenvolvimento em conjuntura adversa: com o choque do petróleo (1973), encerrava-se o “milagre econômico”, quando a economia crescera, em um só ano, 14% (se neste for 2%, haverá comemoração). A polêmica entre fazer um ajuste recessivo versus manter o crescimento dividiu o ministério, com Mário H. Simonsen, na Fazenda, optando pelo primeiro, e Reis Velloso, pelo segundo. Com o aval de Geisel, este levou adiante projetos ambiciosos, como Itaipu, Embraer, Pró-Álcool, prospecção de petróleo no mar, polos petroquímicos. Nenhum traria o louro de inaugurar placas, pois os frutos só viriam no longo prazo. Seus críticos atribuem a inflação dos anos 1980 a tais “megaprojetos”, só que países vizinhos – como Argentina, Bolívia e Peru – também tiveram hiperinflação no período sem plano nenhum. Ao sair do ministério, Reis Velloso via a indústria representar 30% do PIB (hoje é 11%), líder internacional em vários segmentos, e com agropecuária promissora em produtividade. Tivemos apagão com Itaipu, o que seria sem ela?
Coube a Collor, pela primeira vez, criar um Ministério da Economia. Depois recriado, o Planejamento nunca mais recuperou seu status: tratava apenas burocraticamente do orçamento. O mundo já era outro e se chegou onde estamos.