O novo Senado brasileiro estreou como uma versão piorada de si mesmo. Intrigas, ofensas e denúncias de fraude deram o tom da eleição de Davi Alcolumbre (DEM-AP) para a presidência da Casa e marcaram as duas sessões que deveriam, justamente, representar o começo de uma renovação na política brasileira.
Os parlamentares, depois de eleitos, parecem haver esquecido rapidamente o recado dado pelas urnas. Com isso, prestam um desserviço à política e à democracia. O desgaste de imagem diante da sociedade abre uma fresta perigosa para o populismo e para o autoritarismo, além de reforçar o discurso daqueles que qualificam o parlamento como irrelevante.
Ficou evidente, mais uma vez, que a disputa pelo comando do Senado teve caráter escuso e sem qualquer relação com um projeto de futuro para o Brasil. Cargos e espaços de poder se apresentam como as únicas motivações do vexame transmitido ao vivo para o país durante um fim de semana de verão.
Beira o inacreditável a desconexão entre os senadores e as reais necessidades da nação. Se o tempo usado com picuinhas e discursos demagógicos fosse investido em temas como a reforma do Estado, os ganhos seriam infinitamente maiores para todos.
Resta como consolo o fato de que, no segundo dia de trabalho, num rasgo de lucidez e por escassa margem, os senadores decidiram atender minimamente aos reclamos dos brasileiros cansados dos políticos carregados de processos, que se elegiam para cargos de direção à base de promessas de proteção na comissão de ética.
O que se vislumbra a partir do episódio do final de semana é uma legislatura tensionada, com ódios represados e que, certamente, terão impacto na votação de projetos importantes para o país.
Por isso, é mais do que bem-vinda a disposição do presidente recém eleito de restabelecer o diálogo, evitar revanchismos e levar à frente a análise de temas complexos, mas fundamentais, como a reforma da Previdência.
É importante, sobretudo, que o Legislativo possa se mostrar sensível à necessidade de mudanças no sistema de aposentadorias e pensões, o que até agora não ocorreu de fato.
Só com o abrandamento de ânimos será possível estabelecer um debate em novos patamares de ética e de transparência, uma exigência que emergiu das urnas em outubro, juntamente com o resultado das eleições.