Por Lelei Teixeira, jornalista
O que nos move neste tempo é contraditório e complexo. Há conformação e aceitação, puras e simples. Ou conduzidas. Ou por necessidade. Há muitas dúvidas. Há medo e angústia. Há sentimentos genuínos de quem não se submete à palavra autoritária, sem diálogo e sem diversidade. Mas o momento é de aliviar as tensões de um período difícil e tenso, sem alimentar ódios, ufanismos e mágoas. É necessário olhar para o outro desarmado – entre risos, abraços, críticas, lágrimas ou brincadeiras, com a expectativa de que ainda pode ser possível a harmonia na diferença.
Vamos nos inspirar nos poetas e seus embates com a palavra, como bem definiu a professora Marlene Teixeira, uma estudiosa da linguagem e do poder da palavra. "Os poetas sempre souberam da rebeldia da palavra, de sua 'resistência' em colocar-se sob o domínio daquele que a utiliza: ela diz mais ou diz menos, diz outra coisa; ela não cessa de produzir sentidos através do tempo, sentidos esses nunca acabados, jamais detidos. Se, de um lado, não se pode realizar uma fala 'satisfatória', de outro lado, a palavra 'justa' insiste em se dizer e é para encontrá-la que seguimos falando".
Precisamos, então, da palavra que nos tire da intolerância violenta para combater a discriminação já autorizada. Precisamos buscar o outro e encontrar a possibilidade do diálogo que nos coloque novamente em sintonia, mesmo na divergência, para discordar, é claro, mas como seres civilizados que somos, ou deveríamos ser.
A riqueza da vida está no cotidiano compartilhado e na multiplicidade de ideias, ações, escolhas e comportamentos que dividimos. Não há espaço para vítimas ou heróis neste cenário confuso. Não há espaço para estereótipos. Se as dificuldades e as sombras estão no ar, mais do que nunca é necessário cultivar aptidões, sonhos e lutar sem medo pela liberdade. A partir do que já está dado, ainda será possível a empatia. E tudo pode recomeçar a cada amanhecer, com o foco na humanidade, na vida coletiva e solidária. Já está dito que não somos ninguém sem o outro. E aprender é um processo contínuo.