Por Renata Brasil Araujo, psicóloga, vice-presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead)
Atualmente, quando acompanhamos os meios de comunicação, observamos que existe uma preocupação enorme – o que é louvável – quanto a qualquer atitude preconceituosa por parte do outro. Pessoas defendem que negros, homossexuais, mulheres e outros grupos não sejam discriminados pela sociedade; que eles devem ter acesso a direitos iguais, e que não podem ser vistos de uma forma estereotipada e generalista.
Esses movimentos reguladores são de extrema importância para a evolução – e por que não dizer humanização – da nossa sociedade. No entanto, se tem observado que há um movimento paralelo (ou, talvez, associado) no sentido de rotular e condenar profissionais de determinadas áreas e indivíduos que votam em certos partidos ou candidatos, demonstrando haver uma polarização, cujos lados são: eu (e os "meus") e os outros. O incrível é que "os outros" são sempre preconceituosos, corruptos, fascistas, alienados e dignos de adjetivos igualmente degradantes. Eu e os "meus", por outro lado, somos o símbolo da honestidade, do equilíbrio e da aceitação, menos dos "outros", é claro, pois estes não podem ser aceitos de forma alguma e por ninguém! Se alguém dos "meus", aceita os outros, logo se transforma em um deles, e deixa de fazer parte do grupo seleto dos "meus".
Diante disso tudo, devemos pensar: por que precisamos demonizar os outros? Será para nos sentirmos em paz com nossas consciências? Ou quem sabe será para conquistarmos uma vaga no céu ao lado de quem é "do bem"? Será que os outros estão sempre errados? E isso, consequentemente, significa que eu e os meus estamos sempre certos? Será que, ao fazer isso, não estamos sendo tão preconceituosos quanto quem acusamos de ser? Afinal, para quem servem as nossas generalizações?
Chegou a hora de olharmos "nos olhos" dos nossos preconceitos para que possamos praticar uma autêntica tolerância, na qual o amor e o respeito não sejam apenas destinados a quem está de acordo com as nossas ideologias.