Por Irajá do Nascimento Filho, professor universitário
Não sei você, mas detesto chuchu, aquele vegetal espinhoso cuja aparência não serve nem para uma comparação cromática, ou você já ouviu falar que alguma coisa é verde como chuchu? Para mim, o chuchu é prova irrefutável de que o nada pode ser sólido.
Porém, para não ser taxado de radical, afirmo que se o chuchu vier acompanhado de um molho bem temperado ou um creme de camarões, aí a coisa muda. Passo a tolerar o chuchu, não por suas qualidades intrínsecas, mas pelos acompanhamentos.
Sendo assim, tolerar significa conceder ou aceitar que o chuchu esteja no meu prato, desde que certas condições sejam satisfeitas. A tolerância sempre vem com alguma concessão por parte do tolerado para que ele se molde ao gosto do tolerante. Chuchu puro, nunca.
Por isso implico com expressões como "intolerância religiosa", "intolerância racial" ou "intolerância de gênero", como se alguém fosse obrigado a fazer adaptações ou modificações na sua religião, raça ou etnia, gênero ou atividade sexual para, finalmente, passar a ser tolerado. Para mim, as expressões mais corretas seriam "respeito religioso", "respeito racial" e "respeito de gênero".
Respeito é conquista, tolerância é concessão. Ser respeitado é orgulho, ser tolerado é passividade. Respeito é direito, tolerância é esmola. Respeito se exige, tolerância se aceita. Tolerância é o toque da fada madrinha que faz do sapo um príncipe. Se a fada madrinha mudar de ideia, o príncipe volta a ser sapo. Respeito é a estrutura cultural que transforma o individuo em cidadão e não há fada madrinha (ou madrasta) que possa reverter o processo.
Também é interessante notar que opiniões e ações racistas, xenofóbicas, homofóbicas e misóginas passaram a ser classificadas como simples intolerância, como se os intolerantes fossem apenas crianças birrentas. Os intolerantes são desrespeitosos, querem o retrocesso, são obscurantistas e assim devem ser retratados, com todo o peso das palavras.
O ideal é vivermos em uma sociedade onde se possa ler no placar do jogo: tolerância zero, respeito mil.