Por Renato Silvano Pulz, professor universitário, médico veterinário e advogado
O ano mal começou e já estão falando em uma "nova era". A expressão é pretensiosa, mas talvez estejamos mesmo em um momento de transformação, de tensão entre o velho e o novo. Todavia, meu texto não tratará das palavras da ministra Damares, mas de outro tema que também divide opiniões.
As preocupações com o meio ambiente começaram no século 20. Nesse momento também surgiu um debate que ganhou corpo em nos nossos dias. Refiro-me a forma como tratamos os outros animais: uma ética animal floresceu. Hoje, cão e gato são porta-vozes das várias espécies que sofrem em silêncio. Com a proximidade reconhecemos que sofrem e que têm vida emocional. Porém, é certo que há uma série de práticas em que usamos animais como objetos descartáveis, mas é inegável que o momento é de transformação.
Há muitas pessoas considerando novos hábitos e questionando costumes que envolvem a exploração de animais. Cada vez mais: métodos substitutivos de pesquisa, veganos ou vegetarianos, leis de proteção animal, questionamento práticas culturais, religiosas e de métodos de criação. Além de documentários, livros, congressos e sobre o tema. Os impactos ambientais causados pela pecuária e o aquecimento global, o consumo de água causado pela indústria da carne, a potencial relação do consumo de proteína animal e certas doenças, são questões recorrentes. Enfim, temas que começam a estremecer conceitos enraizados em nossa cultura. Sem dúvida um momento de transformação, uma nova era. Inclusive, há pensadores contemporâneos que afirmam ser o dilema moral do 30 milênio.
Nessa nova era, o Bambi terá uma floresta preservada, não precisará fugir do bicho homem e poderá usar azul ou rosa. O Rei Leão dividirá o trono com seus súditos. O touro Ferdinando poderá viver entre os seus e não será levado para a arena, nem para o frigorífico. As galinhas não precisarão arquitetar fugas cinematográficas, nem o porquinho Baby precisará fingir ser um cão pastor para escapar da panela. Não existirão mais "Flipper" e "Willy" famosos, mas só desconhecidos vagando pelos oceanos, que estarão sem plástico. O patinho feio não será discriminado, nem terá seu fígado degenerado. Mas até lá, não desanimemos com eventuais retrocessos, afinal, por vezes, alguns passos para trás permitem impulso para um salto para frente.