Por Bianca Pazzini, professora da Fundação Escola Superior do Ministério Público (FMP/RS), mestra em Direito e Justiça Social, doutoranda em Política Social e Direitos Humanos
Digamos que o seu prédio fosse acometido por um incêndio. Soando os alarmes, você se dá conta que estão em casa você, seu filho recém-nascido e seu cachorro adoecido, que não consegue caminhar. A fumaça já percorre o apartamento e os vizinhos do seu andar já se foram. O que você faria? Salvaria seu filho ou o cachorro? Afinal, o que você escolhe: direitos humanos ou direitos animais?
A verdade é que você não precisa fazer essa escolha. Animais e humanos não concorrem entre si na implementação de direitos. Quando você vai ao supermercado ou a um evento social, não precisa escolher se viola direitos humanos ou direitos animais.
Ninguém deixa de viver dignamente por escolher produtos que não dependam da exploração animal para serem produzidos. Não lhe faltará proteínas, suas roupas continuarão bem lavadas e seu cabelo ficará até mais sedoso com xampus amigos dos animais. Em suma, você pode salvar quem você quiser: seu filho, o cachorro e até a vaca explorada pela pecuária.
Ademais, a cada dia há mais opções de consumo sem que a indústria e o crescimento econômico sejam sacrificados. Ninguém será desempregado pelo veganismo. Melhor: haverá geração de empregos mais éticos, menos violentos.
Como começar essa transformação: fazendo sua própria parte. Fazendo a coisa certa. Eliminando, na medida do realizável, toda forma de exploração (humana e animal) de seu consumo; denunciando casos de maus-tratos; e atenuando sua parcela de responsabilidade moral na miséria animal.
E se o prédio estiver em chamas de verdade? Não há crime algum escolher o membro de sua própria espécie. Contudo, quantas vezes passamos por isso na vida? Nunca ou quase nunca. Quando meu prédio pegou fogo (pasme: comigo aconteceu), salvamo-nos todos, humanos e animais, sem que qualquer vida precisasse ser abandonada. Na época eu não tinha um filho recém-nascido, e, acaso tivesse, teria saído com ele em um braço e a felina em outro. Salvaria ambos.
Por fim, oportuna a reflexão de Émile Zola: "o destino dos animais é muito mais importante para mim do que o medo de parecer ridículo(a)".