Por Francisco Milanez, arquiteto e biólogo, presidente da Agapan
Falar em crescer preservando meio ambiente é mesmo que dizer que vai enriquecer perdendo dinheiro. A questão do crescimento tem sido amplamente debatida nos últimos 50 anos. Se crescer constantemente fosse bom os gigantes teriam mais saúde do que os outros e não menos, como se observa na vida. Crescimento é um período importante no desenvolvimento de qualquer sistema. O mais importante, entretanto, é se desenvolver e para isso não é necessário crescer e sim se transformar.
A agricultura brasileira cresceu muito nestes últimos anos, mas pouco se desenvolveu. O faturamento com a exportação de soja aumentou, a área plantada aumentou, mas os produtores continuam endividados e muitos quebrados. Como isso é possível? Simples, produzir muito numa propriedade não significa estar lucrando, pode até estar perdendo dinheiro. Depende do custo de produção que pode até ser maior que o faturamento. O que interessa é o lucro que é o que sobra depois de descontar os custos. Eu posso até diminuir minha área de plantio e ainda assim aumentar meu lucro. É o que fazem os agroecologistas que baixam seus custos, aumentam o valor de seu produto, preservam a natureza e ainda por cima melhoram sua terra ao invés de destruí-la com o passar do tempo.
Crescer é um processo de economias subdesenvolvidas que sempre destroem o meio ambiente. Economias inteligentes aprimoram, agregam valor a seus produtos, se desenvolvem sem crescer e sempre preservando sua maior riqueza, o meio ambiente.
O trabalho técnico é possivelmente o mais importante para uma nação. Os técnicos aprendem suas habilidades e executam com precisão. Geralmente o trabalho técnico é eficaz porque é focado e restrito a uma pequena área. Essas pessoas movem o mundo, mas nem por isso são capazes de planejar e interpretar o mundo. Falta a elas a visão do todo e das relações. Tendem a gostar de explicações fáceis, às vezes superficiais.
Desenvolvimento é uma questão complexa para a qual é necessária uma visão ampla da vida. Não é melhor que a visão restrita, é apenas diferente e necessária quando se lida com milhares de variáveis e não com meia dúzia. Todas as visões são importantes para a sociedade, cada uma no lugar correto.
Desenvolver é um processo de complexidade máxima que envolve educar de forma ampla e crítica, para produzir pessoas criativas e independentes. Também envolve sensibilidade social e cultural. O respeito a diversidade é essencial porque ela é nossa maior riqueza. Não só a biodiversidade, mas a diversidade de crenças, de línguas, de costumes, de visões de mundo. Essa é a principal riqueza dos países desenvolvidos.
Educar para o desenvolvimento sustentável é promover a diversidade, o respeito, a solidariedade e a paz. Pessoas educadas entendem a importância de respeitar todos os tipos de vida, ainda mais no país que tem a maior biodiversidade do mundo.
O novo presidente não parece ter essa visão ampla. Caso tivesse, diante da oportunidade ímpar de fazer uma palestra de abertura em Davos, sobre o que pretende fazer, não falaria menos de dez minutos nem poria, nesta fala minúscula, coisas inconciliáveis como crescimento e preservação do meio ambiente.