Por Antônio da Luz, economista-chefe do Sistema Farsul
O crescimento sustentável é possível: temos exemplos aqui. É possível e desejável termos simultaneamente crescimento econômico e preservação ambiental, como sugeriu o Presidente em Davos. Isso, aliás, é a essência da Economia, pois seu papel é equacionar nossas necessidades ilimitadas com a finitude dos recursos. Se esgotamos os recursos, voamos como galinhas, se não os utilizamos, ficamos estagnados. A sustentabilidade é quem garante a estabilidade e o bom senso é o seu combustível.
Mas Nelson Rodrigues, com toda sua genialidade, identificou o nosso "complexo de vira-latas" após a derrota do Brasil para o Uruguai no Maracanã e, passados quase 70 anos, superamos a derrota, mas não o complexo. Por alguma razão sentimos um certo prazer em dizer que o Brasil faz tudo errado. Tratando-se de meio ambiente nosso complexo é mais visível, onde desacreditar nossa imagem, sobretudo fora do país, parece conferir um ar intelectual ao mensageiro.
O agronegócio, por exemplo, é a prova de que a sustentabilidade está presente aqui. Produz comida para um bilhão de pessoas de centenas de países, cresce a taxas bem superiores à média brasileira e expande a produção baseado não em aumento de área, mas na inserção de tecnologia e industrialização dos processos produtivos. As lavouras, por exemplo, ocupam de acordo com IBGE apenas 7,8% do território nacional, enquanto as pastagens 21,2%. Mas isso não é tudo: em média, de acordo com o Cadastro Ambiental Rural do Ministério do Meio Ambiente, metade da área das propriedades são preservadas, ou seja, o produtor tem consciência de que o dilema da economia está bem presente no seu negócio, onde se ficar estagnado o mercado expulsa, se exaurir os recursos, o ambiente o fará. Somando as áreas de preservação com aquilo que os produtores preservam, temos mais de 66% do território. Qual país do mundo tem números semelhantes aos nossos? Claro que temos o que melhorar! Mas mesmo assim, não há no mundo agropecuária sustentável como a nossa.
Nosso desafio maior está no meio urbano, onde despejamos esgoto nos rios sem qualquer tratamento e destinamos mal nosso lixo - papel do poder público - mas os fins de noite na Cidade Baixa mostram que a culpa não é somente dele. Na Amazônia a exploração ilegal de madeira destrói aquilo que pode conter um paraíso de descobertas científicas que garantirão nosso futuro econômico e como espécie, gerando enorme concorrência desleal com o agro. Mas por alguma estranha razão gastamos energia tentando desconstruir o que fazemos bem e colocamos pouca energia no que estamos mal, numa espécie de dança de caranguejos.
O crescimento sustentável pressupõe que o equilíbrio tenha valor. Por isso a importância de vendermos a imagem correta, de nos orgulhar do que fazemos bem - pois isso incentiva a fazer melhor e agrega valor ao produto – e criticarmos construtivamente o que temos de melhorar. Esse é nosso grande desafio, atentar para os dados, abandonar o complexo de vira-lata, pacificar os radicalismos, exercitar a maturidade e o bom senso, em especial dos agentes públicos.