Por Céli Pinto, cientista política
Passado o primeiro momento de pirotecnia populista, quando medidas de impacto entusiasmarão os eleitores mais ingênuos, o que importará para o governo Bolsonaro e seus apoiadores de peso é o projeto econômico ultraliberal.
E há dois resultados possíveis:
Um deles é tudo continuar como está e as políticas não serem aprovadas. Pelo que se viu até agora, é pobre a capacidade de articulação do governo com o Congresso Nacional. Não negociar com partidos, mas com bancadas, é tapar o sol com a peneira. São conhecidos a instabilidade das bancadas e o poder dos partidos, e o governo só não negociará com os partidos se não tiver cacife. Sem sucesso, Bolsonaro tem grandes chances de não completar o mandato e o país poderá vive um novo governo militar liderado pelo general Mourão.
O outro resultado possível é o governo conseguir aprovar sua pauta e isto deflagrar uma crise social. O êxito de políticas econômicas com esta matriz não tem indicado no mundo a melhoria de vida das populações carentes, ou dos trabalhadores em geral. Ao contrário, o neoliberalismo tem andado de mãos dadas com o aumento das desigualdades sociais e o empobrecimento das camadas mais vulneráveis da sociedade.
Bolsonaro se elegeu com grande popularidade, mas sem uma agenda focada na melhoria de vida das camadas populares. O sucesso das políticas econômicas trará insegurança e pobreza para os trabalhadores e não há razão para pensar que a massa de seus eleitores ficará inerte frente "a traição". Se Bolsonaro não segurar as ruas, as ocupações, as greves, e possivelmente não o fará, também tem altas chances de não completar o mandato e o general Mourão assumir a Presidência.
O Brasil elegeu um governo de extrema direita e a história tem mostrado que estes governos não conseguem se manter no poder sem romper com os princípios básicos da democracia. A diferença entre o Brasil e as demais experiências deste tipo é que Bolsonaro não tem estatura política e pessoal para liderar um governo autoritário com tendência fascista, daí ser bastante provável que entregue a tarefa aos militares dos quais se cercou ou que o cercaram.