Por Luis Beck da Silva Neto, cardiologista e internista, professor do Programa de Pós-Graduação em Cardiologia/UFRGS
Estávamos eu, minha mulher, meu filho e minha mãe em pé, na rua, à noite, assistindo a um espetáculo natalino que a cidade de Gramado oferece ao público. À minha frente, uma menina estava sentada nos ombros do pai. Me parecia um pouco pequena demais pra entender o que se passava. Às minhas costas, um senhor idoso e solitário me causava interesse por estar ali, interessado numa festa pública de Natal. Lá pelas tantas, fazia parte do tema no palco, nossa necessidade global de aumentar a esperança. Para isso havia um medidor, um "esperançômetro", que media a esperança naquele ambiente. Para aumentar o nível de esperança, era preciso fazer alguma coisa...
Assim, um deu a sugestão de pedir para que as crianças batessem palmas! Neste momento, a pequena menina à minha frente "se bota" a bater palmas freneticamente enquanto saltitava em cima dos ombros do seu pai. Acompanhada de milhares de outras crianças, o esperançômetro do Natal começava a marcar mais e mais esperança na Terra. Momento que, confesso, emociona os não-pobres de espírito. Me impressionou que a pequena menina entendia o espetáculo e parecia inclusive "contribuir" para a nosso nível de esperança.
Olhei discretamente para o velho às minhas costas e flagrei seu semblante de descrença, girando sua cabeça discretamente para os lados, claramente em desabono ao momento. Aquela cena resume o ciclo vital: a criança, com pouco passado e imenso futuro, é um tanque cheio de esperança e, portanto, de vida. O velho, com enorme passado e futuro restrito, é um tanque vazio de esperança.
O esperançômetro do espetáculo de Gramado, nada mais é que um medidor de nossa quantidade de vida. Com muita esperança temos muita vida. Sem esperança, nossa vida está no fim. Será que o esperançômetro precisa ter a ver com a idade? Ou podemos ter esperança e vida a qualquer tempo? O que vejo, tanto na rua quanto no consultório, é que temos velhos com esperança, e em geral com saúde, e muitas vezes jovens de tanque vazio. Quem viverá mais?