Por Fábio Bernardi, sócio-diretor de criação da Morya
Uma grande amiga disse num grupo de WhatsApp: “Eu não tinha um candidato, mas agora tenho um presidente”. Achei uma ótima síntese para retratar o que deveria ser o espírito de todos nós diante de um novo governo, mesmo que ele tenha sido eleito sem o nosso apoio ou o nosso voto. Afinal, não é hora de ter razão, é hora de ser feliz. E torcer para que um novo governo dê certo deveria ser uma obviedade, já que somos todos passageiros no mesmo avião desse piloto.
Se você pensar bem, não deveria haver nada mais bonito do que a democracia. A escolha pela participação popular, no voto, de qual será o destino das nossas vidas. Mas a briga ideológica tornou a eleição nacional uma guerra, semeou desesperança, plantou o ódio e incentivou a torcida do contra. Só que torcer contra, agora, não faz mais nenhum sentido, a menos que você esteja pensando em morar no Exterior e levando junto sua família e seus amigos. E, ainda assim, se você também for, acima de tudo, um egoísta e um ingrato com o país que trouxe você e todos nós até aqui.
Aliás, sobre esse país, você já reparou a quantidade de temas que sempre estiverem à sombra nas eleições nacionais e que esta fase de transição está nos obrigando a debater de forma mais contundente? Não tem pai e mãe que não estejam olhando para a escola ou universidade do seu filho. Faz sentido ter Ministério do Trabalho? Meio Ambiente combina ou é antagônico com Agricultura? Nunca se falou tanto sobre a política externa nacional, assunto recorrente em qualquer eleição americana, por exemplo. Nunca conversamos tanto sobre as relações entre os poderes, ou sobre a política de segurança pública, o porte de armas, a maioridade penal e outros tantos temas que antes eram assunto de especialistas e que, hoje, são discutidos nas redes sociais, na mesa do bar ou na arquibancada de futebol. Podemos gostar ou não do tom do debate, ou de como ele parece ir mais para um lado do que para o outro, mas é inegável que o país está discutindo de forma mais aguda, para o bem e para o mal, pautas fundamentais para uma nação que se deseja digna deste nome.
Não conheço ninguém que não queira viver num país melhor. Todo mundo quer. Mas a verdade é que pouca gente levanta do sofá. No meio de tanta briga, fake news e safadeza, voltamos a ter gente mobilizada, querendo lutar pelo que acredita. E isso é bom, ainda mais em uma democracia tão jovem e imatura como a nossa. Um dia, todos nós iremos aprender que podemos, e devemos, lutar e brigar com as ideias, mas não com as pessoas.