Por Fábio Bernardi, sócio-diretor de criação da Morya
Eu sou um fundamentalista da opinião, um radical quando o que está em jogo é o direito de qualquer um dizer o que pensa. Mesmo que eu não concorde com nada, não recuo um milímetro na defesa do direito de expressão de qualquer pessoa.
Para mim, a liberdade é o primeiro dos valores de uma vida plena. Dito isso, também preciso dizer que é dose aguentar alguém defender o assassinato de civis na Venezuela. Ou apoiar a simples militarização de escolas infantis como solução para a educação do país. Ou que alguém tenha que ser barrado em um clube apenas porque sua esposa é comunista. Ou que um condenado e preso pela Justiça tenha que disputar uma eleição apenas porque é popular.
Será que as pessoas, ao menos as mais instruídas, não percebem o ridículo dessas posições? Tudo bem que a regra do clube permite, que a Justiça pode falhar, que o Colégio Militar é ótimo. Eu escuto os absurdos e até defendo o direito de dizê-los, mas não peça que eu concorde. Isso sem falar nas inúmeras manifestações que não são meros absurdos, mas simples apologia à violência ou incentivo a preconceitos. E tudo piora em época eleitoral. Um absurdo dito por alguém do meu campo ideológico soa natural, enquanto algo banal dito por um adversário vira motivo para uma guerra.
Onde fomos parar que estamos colocando qualquer coisa abaixo da ideologia, inclusive a vida? E tampouco é aceitável tratar uma posição ideológica como se fosse a mesma coisa que cometer um delito. Um comunista não é um pedófilo. Um reacionário não é assassino. Esquerda e direita não são opções criminosas. Será mesmo que não é possível desgostar das ideias sem desgostar das pessoas? E não é muito melhor ser o oposto ideologicamente de alguém do que ser o oposto em caráter? Será que uma pessoa radical de direita e outra de esquerda não podem ser ótimas companhias, bom papo, gentis, éticas e generosas? Eu sei que podem, porque tenho ótimos amigos em ambas as pontas. E tenho certeza de que eles também seriam amigos de ótima convivência se conseguissem olhar por cima do seu muro ideológico.
Nesta eleição, somos nós, eleitores, que podemos mudar o jogo. Não apenas votando bem, mas participando bem do debate eleitoral, aceitando as diferenças e dialogando sobre elas sem que façamos disso uma batalha em que, ao final, os mortos e feridos seremos todos nós. Se você discorda de mim, não tem problema. Mas na hora de debater comigo ou com qualquer outro, lembre que, se mudasse apenas 2% do meu genoma, eu me transformaria em você. Somos todos 98% iguais. Deixe a maioria de você vencer nessa eleição.