Por Ricardo Hingel, economista
A eleição de Jair Bolsonaro pode representar o fim de um longo inverno na política e na economia nacional. A desastrada gestão de Dilma Rousseff, vide seus resultados, levou o Brasil a uma inédita recessão que trouxe sérios desdobramentos políticos e, mesmo com sua saída e a assunção de Michel Temer ao poder, a crise se manteve até agora.
Quem pagou a conta foram os desempregados e as empresas que enfrentam dificuldades ou faliram, além de todos os entes da Federação, que sofreram com a queda de sua arrecadação, todos vítimas da recessão.
O novo governo enseja algumas novidades que podem trazer uma luz e que marcaram o país nos últimos anos: a bandeira da corrupção desfraldada não apenas pelo candidato vencedor, mas, principalmente, pelo anseio popular que votou maciçamente contra o establishment atual, além do antipetismo, enxergou uma oportunidade ou esperança de dar certo. Agora, mais do que o discurso anticorrupção, a indicação do juiz Sergio Moro para o Ministério da Justiça turbinado entrega materialidade ao discurso.
Outro ponto importante percebido, em especial pelo mercado, é a linha econômica, que, embora ainda um tanto imprecisa, mostra ares de cuidado com as contas públicas e a redução do custo do Estado para a sociedade que, mantida a tendência atual, rumava para a insolvência. Termômetros de mercado, como dólar, juros e bolsa, atestam um otimismo moderado. O candidato derrotado no segundo turno apresentava proposta oposta, o que agravaria as contas nacionais, rumando a uma aventura imprevisível.
Se a questão da corrupção e da economia podem trazer boas notícias, persiste uma dúvida na questão política, que será a forma como o novo governo construirá suas bases para aprovar as leis necessárias para suportar um crescimento econômico sustentável. Desde o governo FHC, acostumamo-nos com o chamado presidencialismo de coalizão, com a repartição de cargos em ministérios e estatais, o que facilitou a propagação da corrupção.
Há promessas de redução do número de ministérios e uma curiosidade ou novidade, pois além dos partidos tradicionais, o Congresso vem constituindo, ao longo dos anos, as chamadas “bancadas temáticas”, que representam interesses definidos e que são formadas por parlamentares dos mais diversos partidos e que foram definitivos no resultado da eleição.
O desafio maior dos primeiros meses de governo será a recuperação da governabilidade, ou poderemos eternizar nossa crise política e econômica a um custo impensável.