Ricardo Hingel, economista
A previsibilidade é questão importante para qualquer um tomar suas decisões, funcionando tanto para o mais simples indivíduo quanto para a maior empresa. Com base no que se acredita que vai acontecer, decisões são tomadas e afetam a vida de todos.
Em um país onde as decisões governamentais impactam tanto na economia, face ao peso que o setor público adquiriu, estratégias, erros e acertos governamentais afetam mais a todos; se a carga tributária já representa mais de um terço do PIB brasileiro, os efeitos diretos e indiretos gerados pelo que é feito com os impostos mexem com toda a economia. A recessão gestada no governo Dilma prejudicou diretamente a arrecadação tributária e, por consequência, as contas públicas, já comprometendo qualquer dos candidatos presidenciais que venha a se eleger. Apesar da grave situação atual, sem corar, predominam ofertas de soluções indolores e obscuras e paradoxalmente o eldorado seria alcançado.
Neste quadro, o mercado cobra o preço da imprevisibilidade. Conforme o eleito, tanto o dólar pode voltar a R$ 3,70 quanto chegar a R$ 5. Baixa expectativa quanto à recuperação da economia, dúvidas quanto ao equilíbrio fiscal honestamente enfrentado, com a reforma séria da Previdência, assustam os agentes econômicos e justificam suas apostas em subida do dólar e dos juros e na queda da bolsa e da geração de empregos.
A geração de empregos só responderá quando houver crescimento e será resultante da gestão da economia e não de estratégias de marketing das campanhas. Não se geram empregos por decreto!
É triste constatar o risco da volta do populismo ao Brasil e que teve sucesso quando se compraram corações e mentes, com o uso de programas sociais. Ao mesmo tempo, verifica-se que, por trás destes, tivemos embutidos projetos de poder e de sua perpetuação. Falta honestidade de propósitos e os corações e mentes conquistados vivem em um país tolerante à corrupção. Os benefícios concedidos, como o Bolsa Família, são reais para quem recebe, mas o custo da corrupção usufruída por quem os alcançou, do Mensalão ao Petrolão, representam questões quase invisíveis, pois são distantes e imperceptíveis para uma parcela importante da população, que convive com a desonestidade intelectual daqueles que os enxergam, mas os acham naturais ou úteis.
É lamentável que a tão poucos dias das eleições, tão pouco se consiga prever quanto que teremos para o próximo ano. O Brasil parece ser muito mais um projeto e objeto de poder do que de nação. Pouco interessa se o país avançará, desde que grupos o dominem. A Venezuela ensina bem, ou seria a Coreia do Norte?