Por Ricardo Hingel, economista
Recentemente, circulava nas redes sociais uma pergunta que questionava se era melhor escolher um candidato e cair do cavalo ou escolher outro candidato e ter o cavalo roubado. Em um grupo de WhatsApp do qual participo, estabeleceu-se uma discussão que começou por uma brincadeira, mas que remeteu a uma reflexão séria.
Devemos lembrar que o sucesso do reino animal se deu, em grande parte, pelo fato de as mais diversas espécies viverem em grupo, o que pressupõe importantes regras de convívio, independentemente da complexidade ou simplicidade de cada uma.
A primeira explicação para o sucesso do Homo sapiens foi que ele foi viver em grupo, o que garantiu sua sobrevivência desde seus primórdios. Para a convivência em grupos, do social ao familiar, construíram-se ao longo do tempo regras que, mesmo com imperfeições, permitiram sua expansão e diáspora e a ocupação de todas as regiões do globo.
Neste contexto, criou-se a ética que é um preceito filosófico que, resumidamente, busca abranger toda a questão de valores morais e ideais de convivência de pessoas ou grupos.
Um princípio pétreo dentro da ética é o da propriedade, que arrasta junto a regra básica do não roubar, fundamento institucional introdutório para o processo civilizatório e que nos afastou das cavernas e da barbárie. Desde então, a sociedade organizada passou a combater os ilícitos, dentro das regras morais então estabelecidas, o que se dá até os dias de hoje.
O Brasil é um país interessante, pois critica-se sempre a impunidade, colocada normalmente como causa dos malfeitos. Porém, ela só existe em função da tolerância com que tratamos o descumprimento das leis. Convivemos e aceitamos desde grandes a pequenos delitos, mas temos o hábito de realmente nos indignarmos quando nos tocam diretamente. Nos indignamos mais quando nos roubam o celular do que quando surrupiam bilhões da Petrobras. Não nos importamos quando algum conhecido fuma um inocente cigarrinho de maconha e esquecemos que aquele cigarrinho ao final vai se transformar em um revólver que poderá ser utilizado para nos assaltar ou a nossos familiares.
O quadro eleitoral brasileiro é bem isso. Admitimos, sem pudor, eleger pessoas ou estruturas condenadas ou comprometidas e que causaram prejuízos bilionários aos cofres públicos e que têm entre seus objetivos a busca incessante do poder e suas vantagens. O encarceramento de dezenas de políticos, muitos já soltos, não nos deixa esquecer.
Na metáfora do cavalo, acho que a queda até pode nos machucar, mas aceitar o roubo do cavalo agride nossa integridade e ignora a ética.