Por Daniel R. Randon, vice-presidente de Administração das Empresas Randon e presidente do Conselho Diretor do PGQP
As urnas expuseram a saturação dos brasileiros com os partidos e com os políticos da velha guarda, promovendo uma saudável mudança no Congresso Nacional. A Câmara dos Deputados será renovada em 52,54% e o Senado, em mais de 85% (dos dois terços dos eleitos este ano), deixando os vícios no passado e abrindo espaço para uma política moderna, transparente e legítima. A renovação foi maior do que a inicialmente prevista, apesar da redução do tempo de campanha de 90 para 45 dias, do período do horário eleitoral no rádio e na TV de 45 para 35 dias e da criação do fundo eleitoral para financiar as campanhas em substituição às doações.
O novo cenário inclui gêneros. Haverá um bem-vindo aumento de 51% no número de eleitas sobre 2014, passando de 51 para 77 deputadas federais, o que ainda é baixo. Nas Assembleias Legislativas, elas representam 35% e no Senado, o número de mulheres se mantém em sete.
O mais relevante foi que não foram reeleitos muitos candidatos com acesso ao fundo público de R$ 1,7 bilhão, repassado pelo Tesouro Nacional ao TSE. Isso prova que dinheiro e tempo de TV, obrigatoriamente, não fazem mais votos. É um velho paradigma esfacelado, que enfraquece conchavos, alianças e a desgastada política do “toma lá, dá cá”. As grandes legendas foram transformadas em siglas de médio porte e 14 delas perderão o benefício, o que deve induzir a migração de parlamentares ou a fusão de partidos.
A influência das redes sociais transformou a eleição quase que online, reduzindo o protagonismo das mídias tradicionais. O fato democratizou o acesso de todos, abrindo espaço para opiniões e interpretações. Mas também gerou um enorme volume de fake news, que transcendem as mídias sociais, desqualificando pessoas e instituições e gerando uma onda de intolerância pela simples diferença de posicionamento, como se todos fossem obrigados a pensar igual, sem chance de diálogo. Já dizia Voltaire: “A tolerância se revelaria, assim, como uma forma de conservação da ordem social”.
O que fica disso tudo é o desafio de juntar os cacos desta disputa polarizada, que cria uma derrota muito amarga, e a urgência de enfrentar de frente questões reais, como a bomba fiscal a ser desarmada pelo presidente eleito no próximo domingo via reformas e muita austeridade e honestidade.