Por Cassio Grinberg, consultor de empresas, mestre em Marketing e escritor
A música Boys Don't Cry, hit da banda inglesa The Cure, embalou a geração de adolescentes da qual fiz parte, com uma tocante reflexão sobre crescimento, decisões erradas e amor não correspondido. Convido você a pôr a música para continuar lendo o texto, e talvez você então sinta como ela também nos ensina sobre inovação.
"Eu pediria desculpas se achasse que isso faria você mudar de ideia", inicia uma letra rica em subtextos que nos permitem pensar sobre pedir perdão sem transferir o fardo: logo depois de comprado pelo Facebook, o Instagram publicou uma política equivocada de privacidade, sugestiva da utilização de fotos de usuários para fins publicitários — mas preferiu não "esconder lágrimas com mentiras": a curva de deserções estancou no momento em que os dois fundadores pediram desculpas em suas próprias páginas pessoais.
A música também nos canta sobre dizer "eu te amo" sem querer controlar. A escola do Vale do Silício ensina que antes do exponencial vem o cuidado com a base mais próxima. "Faça coisas que não escalem", sugeriu a Joe Gebbia um dos primeiros investidores do Airbnb. Melhor do que gastar energia medindo a grama vizinha é concentrar-se nos motivos pelos quais nossos clientes continuam conosco, algo que os produtores de leite da Califórnia aprenderam nos anos 1990: dada a dificuldade de converter não bebedores, a campanha "Got Milk?", uma das mais criativas da publicidade americana, mostrava um cookie desacompanhado como sugestão de uma xícara a mais a quem já era consumidor de leite.
"Julguei mal seus limites", "forcei-o demais", "dei-o como ganho", "achei que você precisava mais de mim", ponha esses versos no megafone de qualquer gigante como Blackberry, Kodak, Blockbuster ou Yahoo!, e temos a partitura da arrogância de crer que nos tornamos grandes demais para sequer questionarmos se a armadura de nosso sucesso não está nos fazendo escutar de menos, nos mover pesadamente e falar demais.
Há homens que são meninos e há meninos que são homens, vale também para mulheres, e talvez esteja na hora de entendermos a mensagem da canção: de que é melhor chorar para recarregar baterias do que nos desmontarmos quando já for tarde demais.