Por Gabriela Ferreira, líder de Impacto Social da Tecnopuc e diretora técnica da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec)
Frio, chuva, dias cinzentos. Redução de investimento, verbas minguadas, extinção de bolsas. Mediante um corte de recursos em ciência e tecnologia, anunciado este mês, o Brasil depara com uma previsão de tempos difíceis. Não é de hoje que os pesquisadores brasileiros vêm sentindo as crescentes restrições. Saúde e segurança, assim como educação básica, são fundamentais para um país. Mas o desenvolvimento de ciência, tecnologia e inovação, assim como a formação de pessoal especializado, é imprescindível para a soberania nacional. E é também meio para que as áreas básicas tenham efetividade. Um sistema de ciência, tecnologia e inovação sem recursos (humanos, materiais, financeiros) corre sérios riscos de entrar em dormência. Sem alimento, os projetos são suspensos e, muitas vezes, abortados por impossibilidade de seguir adiante. Como fica a pesquisa com culturas vivas, por exemplo? O que fazer com os testes de medicamentos que foram iniciados? Anos de conhecimento podem ser perdidos com hiatos de algumas semanas.
A comunidade científica se mobiliza neste momento para mostrar sua produção e é fundamental que o faça. Mais do que isso: é preciso deixar claro o impacto dos resultados para a sociedade. Que são muitos, mas nem sempre explícitos. Precisamos criar uma cultura científica que identifique, legitime e valorize essa atividade. Só a partir disso poderá a área ter o espaço que lhe cabe pela relevância que tem, mesmo que muitos não enxerguem.
Que seja uma fase. Um susto necessário para que possamos, como país, despertar para a importância da ciência e da inovação. E estas não como um fim em si mesmas, mas como o caminho para uma nação capaz de entregar a seus cidadãos saúde, educação, moradia, segurança e formas de trabalho dignas. Que ao refletir sobre o impacto do iminente apagão possamos mudar o rumo. Porque, embora a dormência seja um período de descanso necessário na natureza, para o desenvolvimento científico e tecnológico pode ser um caminho sem volta. E que essa fase passe logo. Esperamos, ansiosos, pela chegada da primavera.