O maior contra-ataque desfechado até hoje pelo Facebook no Brasil contra páginas e perfis que supostamente violam suas regras de autenticidade significa um primeiro passo importante no sentido da valorização da informação de qualidade. Ainda assim, o serviço ficou incompleto. Primeiro, porque faltou transparência quanto aos critérios utilizados para a adoção das medidas preventivas. Depois, porque a forma como a iniciativa foi tomada deixou margem para alegações como as de que pesaram interesses políticos e ideológicos. Em consequência, a iniciativa reforça argumentos de censura entre quem se sentiu atingido de alguma forma pela decisão.
Períodos eleitorais, como já foi constatado nos Estados Unidos, onde o uso de fake news teve papel decisivo para a eleição de Donald Trump, além de França e México, exigem atenção total e permanente de quem quer que atue com a veiculação de informações. Mesmo quando há determinações legais claras, quem pretende chegar ao poder costuma atropelar até a verdade. Particularmente em épocas de campanha eleitoral, a circulação de conteúdos falsos de natureza política é um fato da maior gravidade, pois tem potencial para destruir reputações de forma muitas vezes irremediável. Ainda assim, noticiário político falso constitui-se numa gota no oceano de desinformação disseminado pela rede social com o maior número de usuários no mundo e que deveria merecer igual tratamento. Sempre, obviamente, com o cuidado de não configurar cerceamento à liberdade de expressão.
Se a gigante das redes sociais está mesmo preocupada com a veracidade de suas informações, no Brasil e em outros países do mundo às voltas com eleições, é necessário que dê um passo além. Precisa, antes de mais nada, viabilizar o conteúdo produzido por profissionais habilitados e por veículos de comunicação para os quais a credibilidade constitui pressuposto para se manter em atividade. Enquanto isso não ocorrer, o saneamento na rede terá sido apenas parcial.
Uma única desinformação compartilhada por usuários para os quais ou a veracidade dos fatos pouco importa ou por aqueles que têm interesse na mentira já é suficiente para causar danos inadmissíveis. Por isso, jornalistas conscientes e empresas de comunicação, regidos por códigos de ética e de conduta, costumam admitir seus erros e se corrigir quando falham. Quem busca a verdade precisa levar sempre esse aspecto em conta.