Por Pedro Dutra Fonseca, professor titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFRGS
A civilização ocidental teve como marco a frase aristotélica que diz ser o homem um animal racional. Mas também sonhamos. Podemos não estar bem hoje, reconhecermos nossas dificuldades, mas não podemos admitir que as mesmas serão para sempre. A Economia Comportamental mostra que nossas decisões dependem de expectativas. Esperança e medo refletem, de forma inversa, os sentimentos com relação ao futuro, nosso grau de confiança. Investimentos, jogos e opções oscilam nessa polaridade. Por isso, não causa surpresa a pesquisa sobre os brasileiros que querem emigrar, quase 50% em certa faixa de jovens. Por profissão, convivo com universitários cuja insegurança majora ao depararem com a falta de perspectiva de emprego e de realização pessoal. Isto que muitos nem chegam à universidade: param pelo caminho, cedo desistem de ver no estudo tal possibilidade. A necessidade e o fetiche do consumo em uma sociedade que privilegia as aparências — ideologia de suas próprias elites — induzem abreviar o caminho: a opção pelo tráfico e por atividades ilegais que dão acesso ao ganho rápido.
Já os que conseguem chegar à universidade se perguntam se valeu a pena estudar tantos anos — exames, rotina, vestibular, aulas, laboratórios — se não há perspectiva de realizarem-se profissionalmente. Houve época em que as novas gerações sabiam que poderiam viver melhor do que seus pais e o estudo era o caminho: tornara-se mais acessível fazer faculdade, concursos e até a sonhada pós-graduação: “não consegui, mas meu filho conseguirá” — eis a frase ouvida. Hoje, ao contrário, as novas gerações veem portas se fechando: o país tem 13,2 milhões de desempregados, sem contar os por desalento. Dramas pessoais são tratados como meros indicadores. E o emprego sempre aparece condicionado a outras medidas ou reformas — muitas com consequências não muito claras — mas propaladas como seu pré-requisito. Desenvolvimento é visto como coisa ultrapassada: a ordem do dia é enxugar e racionalizar, eufemismo para fechar escolas, hospitais, fundações, indústrias, lojas, repartições... Se tudo está minguando e não há perspectiva de melhora, como aconselhar as pessoas que tenham esperança e fiquem por aqui? Cabe aos mestres o incentivo para superar desafios, mas confesso que fica vez mais difícil.